Formação doutrinal e Comunhão sob as duas espécies

Pax et bonum!

Prosseguindo nossas postagens sobre a Comunhão sob as duas espécies, resolvi não traduzir logo a terceira parte (Especulação teológica) do artigo da Catholic Encyclopedia, já que queremos nos voltar mais para questões práticas.
Recentemente encontrei um texto do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice. Ele relembra alguns pontos da Instrução Redemptionis Sacramentum e toca na necessidade de formação doutrinal, cuidado e organização.
Segue a nossa tradução:
***

DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO PONTÍFICE
Formação doutrinal e Comunhão sob as duas espécies

Na forma ordinária da Missa, a distribuição da Sagrada Comunhão sob as duas espécies é uma opção cujo uso tornou-se uma ocorrência diária em vários países, mas não em todo lugar, mesmo na Europa.
A Instrução Redemptionis Sacramentum, promulgada em 2004, explica o contexto desta prática: "Para que, no banquete eucarístico, a plenitude do sinal apareça ante os fiéis com maior clareza, são admitidos à Comunhão sob as duas espécies também os fiéis leigos, nos casos indicados nos livros litúrgicos, com a devida catequese prévia e no mesmo momento, sobre os princípios dogmáticos que nesta matéria estabeleceu o Concílio Ecumênico Tridentino" (n. 100).
Esta louvável intenção frequentemente encontra a mencionada pedra de tropeço catequética. Sem dúvida, a Sagrada Comunhão sob as duas espécies ilustra a intenção de Cristo de comermos seu Corpo e bebermos seu Sangue. Todavia, este desejo da Sagrada Comunhão nas duas espécies não tem sido necessariamente acompanhado pela fidelidade às normas dos livros litúrgicos e pela formação de apoio para proteger contra os abusos Eucarísticos e equívocos doutrinais.
Enquanto muitos têm assimilado que a Eucaristia é a “fonte e o ápice” da vida cristã, a transmissão dos princípios dogmáticos do Concílio de Trento têm sido vista como algo atrasado. A Instrução deixou claro que, intrínseca à “plenitude do sinal”, está a consistência com os livros litúrgicos e com os ensinamentos de Trento.
A Redemptionis Sacramentum trata das ambiguidades da prática Eucarística e “intenciona conduzir a esta conformação de nossos sentimentos com os sentimentos de Cristo, expressados nas palavras e ritos da Liturgia” (n. 5). Não poucas vezes revela-se uma falta essencial de consciência eucarística quando, por falta de formação, ministros extraordinários escalados fazem referência a “distribuir o vinho”. Esta própria terminologia sugere que, como parte de sua formação adequada, o princípio dogmático de Trento não foi absorvido. Alguns podem ter ouvido sobre “substância” e “acidentes” dentro do contexto da educação religiosa de ontem, mas podem ter sido estimulados a achar que a Igreja, de algum forma, mudou.
Para as gerações modernas, o Concílio de Trento pode não ter sido mencionado em sua formação doutrinal, ele que enfatiza que “nada é perdido do Corpo sendo recebido sem o Sangue pelas pessoas: porque o sacerdote tanto oferece como recebe o Sangue em nome de todos, e o Cristo inteiro está presente sob ambas as espécies” (Suma Teológica, III, q. 80, a. 12, ad 3). Assim, sob as espécies de pão também está presente, por concomitância, o precioso Sangue.
O propósito, então, de receber a Sagrada Comunhão sob as duas espécies, não é de que os fiéis recebam mais graças do que quando recebem sob uma espécie apenas, mas que os fiéis sejam capazes de apreciar vividamente o valor do sinal. Tristemente, esta distinção nem sempre foi feita com clareza e algumas pessoas, quando não é dada a Sagrada Comunhão sob as duas espécies, expressam um senso de desorientação, e até de direito frustrado, ou um sentimento de que, em alguma medida, falte algo à Sagrada Comunhão sob uma espécie apenas.
Conferências episcopais e bispos diocesanos, em particular, são a chave para garantir localmente que a Sagrada Comunhão seja distribuída com reverência e evitando os equívocos. A Redemptionis Sacramentum deixa claro que o mínimo perigo de profanação das sagradas espécies deve ser evitado (n. 101). Ela também expressa preocupação quanto ao “agravo do tão grande mistério” (n. 106). Enquanto a “profanação” e o “agravo de tão grande mistério” sugerem diferentes níveis de abuso Eucarístico, ambos os níveis são expressamente mencionados de modo que sejam evitados.
Todo cuidado deveria ser tomado para evitar a administração do cálice onde as circunstâncias sugerem ambiguidade de recepção ou uma estrutura local onde a segurança do conteúdo do cálice possa não ser garantida. A Redemptionis Sacramentum estabelece que onde houver dificuldade de calcular a quantidade de vinho necessária para uma celebração particular, devido ao grande número de fiéis da assembleia, o cálice não seja ministrado (n. 102).
Métodos alternativos poderiam ser igualmente difíceis de utilizar, tais como o uso de uma colher ou canudo [N.T.: ambos feitos nobremente de metal sólido], onde essas opções não são o costume local. Para a Sagrada Comunhão por intinção, “não se permita ao comungante molhar por si mesmo a hóstia no cálice, nem receber na mão a hóstia molhada” (n. 104).
Futuras traduções da terceira edição do Missal Romano marcam “um momento de graça especial”, como a Conferência Episcopal da Inglaterra e Wales escreveu em sua carta pastoral conjunta de maio de 2011. Espera-se que uma catequese aprofundada sobre a Missa revisite a mentalidade e a maneira com que a Sagrada Comunhão é recebida.
Parece restritivo sugerir que a Sagrada Comunhão recebida com fervor sob uma espécie apenas é mais frutuosa que uma Comunhão tíbia recebida sob as duas espécies, quando objetivos concretos relativos à formação doutrinal, ao cuidado e reverência na celebração litúrgica e previsão organizacional poderiam fazer muito para reconhecer e enfrentar os desafios que surgirem.
O salmista declara o imperativo desta catequese aprofundada: “O que nós ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o esconderemos aos filhos deles, nós o contaremos à geração futura” (Sl 78,4).
Santo Ambrósio divulga o que as pessoas de fé ganham deste conhecimento: “Pois todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste cálice, proclamamos a morte do Senhor. Se proclamamos a morte do Senhor, proclamamos o perdão dos pecados. Se, todas as vezes que seu Sangue é derramado, ele o é para a remissão dos pecados, eu deveria sempre recebê-lo, de modo que ele sempre possa perdoar meus pecados. Dado que eu sempre peco, eu sempre deveria ter um remédio” (Santo Ambrósio, De sacr. 4, 6, 28: PL 16, 464).


Por Luís Augusto - membro da ARS

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