Uso do "Nome de Deus" na liturgia

Ave Maria, Virgo Fidelis!

Tendo em vista que alguém me veio perguntar por que razões a Igreja Católica não utiliza liturgicamente o Nome de Deus na forma do Tetragrama Sagrado, bem assim que, ao arrepio das orientações da Santa Sé, os vocábulos Javé, Iavé ou similares continuam a ser utilizados na música litúrgica, resolvi transcrever as "Orientações sobre o uso do 'Nome de Deus' na Liturgia", emanadas pela CNBB após recebimento por esta Conferência da "Carta às Conferências Episcopais sobre o uso do 'Nome de Deus'", da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. O texto completo da Carta da Santa Sé pode ser encontrado aqui, em espanhol. Como não tive tempo de vertê-la ao português, seguem as orientações da CNBB, que resumem a mesma:



Orientações sobre o uso do “Nome de Deus” na Liturgia

A Presidência da CNBB recebeu uma carta da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (29/06/08) com orientações sobre a “tradução e pronúncia, no âmbito litúrgico, do divino Nome significado no tetragrama sagrado – YHWH”. Apresentamos aqui um resumo desta carta.

I – Parte expositiva

a) Na Bíblia, o nome próprio do Deus de Israel, conhecido como tetragrama sagrado ou divino, está escrito com quatro letras consoantes do alfabeto hebraico na forma YHWH, traduzido sob diversas formas de escrita e pronúncia em nossas orações e cantos, como, por exemplo, “Yahweh”, Jahweh”, “Javé” etc.
b) No Antigo Testamento, o santo nome de Deus revelado no tetragrama YHWH, era expressão da infinita grandeza e majestade de Deus, e, por isso, NÃO SE PODIA PRONUNCIÁ-LO, sendo, portanto, substituído, na leitura do texto sagrado, com uma denominação alternativa – ADONAY – que significa “Senhor”.
c) A tradução grega do Antigo Testamento, chamado dos Setenta, usou regularmente o tetragrama hebraico com o vocábulo grego Kyrios, que significa “Senhor”. Uma vez que o texto dos Setenta constituiu a Bíblia das primeiras gerações cristãs de língua grega, em que também foram escritos todos os livros do Novo Testamento, os próprios cristãos das origens nunca pronunciaram o tetragrama divino. Na tradução para o latim, o termo foi traduzido pelo vocábulo “Dominus”, correspondente tanto ao hebraico Adonay como ao grego Kyrios.
d) Na cristologia neo-testamentária, o termo Senhor é reservado a Cristo ressuscitado, proclamando assim a sua divindade (cf. Fl 2,9.11; Rm 10,9; 1 Cor 2,8; 12,3; Rm 16,2; 1 Cor 7, 22; 1 Ts 3,8 etc).
e)O fato da Igreja ter deixado de pronunciar o tetragrama do nome de Deus, além de um motivo de ordem filológico, expressa também a fidelidade à tradição eclesial, uma vez que o tetragrama sagrado nunca foi pronunciado em âmbito cristão nem traduzido em nenhuma das línguas em que a Bíblia foi traduzida.

II – Parte dispositiva

1. “Nas celebrações litúrgicas, nos cantos e nas orações, não se use nem se pronuncie o nome de Deus na forma do tetragrama YHWH.
2. Nas traduções do texto bíblico para as línguas modernas, destinadas ao uso litúrgico da Igreja, empregue-se para o tetragrama divino o equivalente Adonay / Kyrios: “Senhor”.
3. Nas traduções, no âmbito litúrgico, de textos que tenham, um a seguir ao outro, o termo hebraico Adonay e o tetragrama YHWH, traduza-se Adonay com “Senhor” e use-se a forma “Deus” para o tetragrama YHWH”.

Pedimos, portanto, que as equipes de liturgia, entre elas, os responsáveis pelos cantos litúrgicos, fiquem atentos a esta orientação da Congregação para o Culto Divino e façam as devidas adaptações. Na revisão dos Lecionários, do Missal Romano e do Hinário Litúrgico, a equipe de tradutores da CNBB seguirá esta orientação.

Brasília, 29 de outubro de 2008.
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia

Postado por Edilberto Alves, membro da ARS.

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