A segunda homilia do Pe. Anthony Brankin sobre o Summorum Pontificum


Pax et bonum!

Tenho achado válidas as reflexões deste pároco estadunidense sobre o Motu Proprio, publico a segunda homilia, em 2007, dirigida a seus paroquianos.
Continua, obviamente, bastante atual.
[Os grifos são nossos.]

***
Homilia sobre a Missa Latina - 2
Por Pe. Anthony Brankin,
Pároco da Paróquia Saint Odilo, Berwyn, Illinois,
da Arquidiocese de Chicago, Estados Unidos da América.
Traduzido por Luís Augusto Rodrigues Domingues.

Nesta tarde pensei em falar sobre a nova permissão que o Papa Bento XVI deu para a celebração da "Missa Latina antiga". É uma coisa extraordinária na vida da Igreja - trazer aquele jeito de celebrar a Missa - que eu simplesmente não penso que seja adequado ignorar ou simplesmente relegar às notícias da semana passada o que o Papa atualmente fez.
Não há uma alma nesta igreja, hoje, que há 30 anos atrás não tenha acreditado que a Missa Latina antiga estivesse morta. Morta e perdida nas eras. Mas Sua Santidade disse que aquela forma mais antiga do culto não pode morrer - porque é tão bela, tão rica em história e em experiência humana e em valor sobrenatural que não pode mais estar retida, negada ao mundo - não pode perder-se do mundo que dela tem tanta necessidade. Assim ele a libertou.
Claro, há toda uma multidão aí fora - incluindo bispos - que está clamando indignada, dizendo que o Papa está desfazendo as reformas do Vaticano II; que ele está nos fazendo voltar à idade das trevas onde se tinha Clero x Povo. Bem, ele não está fazendo nada disso.
O Papa diz em sua instrução aos Bispos que está desfazendo o que ele nomeia como equívocos dos líderes da Igreja nos últimos 40 anos, e está decretando simplesmente que as pessoas que desejarem ir para a forma mais antiga da Missa agora têm completa e total liberdade para o fazerem.
O que poderia ser menos ameaçador?
Ele poderia ter dito: "Acabou o tempo, o nobre experimento dos anos 60 acabou. Não funcionou". Ele poderia ter olhado para a falta de vocações - os seminários e conventos vazios, ele poderia ter olhado para o número sempre decrescente de pessoas que vão à Missa - o número sempre crescente de pessoas católicas para quem a Igreja e sua doutrina não significam nada - ele poderia ter dito: "Bem, tudo que mudamos quanto à Missa nos anos 60 - pensando que iria ajudar - bem... não ajudou - então todo mundo volte para o jeito antigo".
Mas ele não disse isso porque ele soube no fundo do coração que mudanças grandes e imediatas são problemáticas - pelo menos quando se toca na Missa. Ele tem ensinado por muito tempo que a Missa cresce e muda - organicamente - lentamente - pouco a pouco no curso dos séculos. Vários séculos. Que você não pode chegar e dizer para uma comissão: "Dêem-me uma forma de celebrar a Missa que seja cheia de energia e moderna e que faça todo mundo rezar". Seria bom se fosse assim tão fácil.
Mas a coisa não funciona assim. Oferecer um culto a Deus é a coisa mais sagrada que alguém pode fazer, e há um instinto da parte das pessoas - de que você realmente não pode mudar as coisas tão drasticamente, ou então você desequilibra as pessoas, empurra-as para o lado errado, e faz com que elas percam qualquer caminho eficaz para Deus que possem ter tido.
Este é um dos pontos do Papa Bento: que quando mudamos a Missa lá nos anos 60, isso foi feito de uma forma brusca demais. Foi algo imposto de cima e veio dos estudiosos, não do povo.
O Papa ensinou muitas vezes nos últimos anos - e mesmo antes de tornar-se Papa - que a única forma pela qual a Missa pode ser mudada é deixá-la lenta e naturalmente ajustar-se ao que está ao redor - que a Missa idealmente deve ser deixada para se desenvolver no decurso do tempo - crescer a partir de mudanças naturais que borbulham do povo - não de comitês de acadêmicos. E pouco a pouco estas mudanças, sutis e delicadas, tomam forma, ultrapassam os séculos e se espalham de país para país, de cultura para cultura.
A Missa que Pedro e os Apóstolos celebraram - e em que os primeiros cristãos participaram - usava canções e leituras da Bíblia e uma antiga versão da Oração Eucarística, numa ordem um tanto semelhante à que sempre temos visto. Nos primeiros anos ela era provavelmente um tanto folgada (N.T.: livre, espontânea), mas dentro de poucas décadas a Missa começou a tomar uma forma e um padrão definidos. Ela começou a ter travas. O padre e o povo estavam voltados para a Cruz juntos - há uma genuflexão aqui, um sinal da cruz ali - e logo cada província do Império tinha sua própria maneira de "fazer" a Missa.
E desta forma, ao longo da lenta marcha dos séculos, num mundo de cataclismas e invasões, tumultos e conflitos, a Missa torna-se a única coisa constante. A forma como a Missa é celebrada, a música que é cantada, a língua que é usada - tudo isso torna-se um grande consolo para o povo.
Sim, a Missa sempre mudou e sempre se desenvolveu - mas de forma tão lenta, que poderia unir gerações entre si - estou unido a meu pai e a meu avô e até mesmo a Carlos Magno - praticamente a mesma Missa. E isso tem um quê de maravilhoso!
Assim, o que o Papa está dizendo é que muitas da mudanças na Missa depois do Concílio Vaticano foram um tanto artificiais e superficiais e nos deram a impressão de que a Missa tinha mais a ver com criatividade e entretenimento do que com o sacrifício de Cristo.
Mais do que isso, ele está dizendo que, se já tivemos a impressão de que a antiga forma de celebrar a Missa era proibida, era terrível e deveria ser jogada fora - bem, essa impressão estava errada.
Ele nos quer convencer de que a forma mais antiga de se celebrar a Missa tem seu próprio gênio, sua beleza e sua graça - os quais nós, neste mundo moderno, não podemos nos dar ao luxo de ignorar ou perder. E que podemos aprender melhor a como adorar a Deus através da celebração da Missa antiga ao lado da Missa nova.
Estou convencido de que Sua Santidade tem uma visão de que em uns 100 anos os bons elementos da Missa de João XXIII e os bons elementos da Missa de Paulo VI se amalgamarão - orgânica e naturalmente - numa Missa mais frutuosa e bela de algum futuro Papa.
Mas, por enquanto, ele diz que aqueles que compreendem que podem rezar melhor numa Missa ou na outra, bem, como um sábio e amoroso pai, o Papa disse: "Façam, por favor".

Fonte: http://latinmass.com/homilyii.html

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