Os 8 mártires leigos japoneses de 12 de julho

Salve Maria!

Hoje, 12 de julho, lemos no Martirológio Romano:

Em Nagasáki, no Japão, os beatos Matias Araki e sete companheiros, mártires, que sofreram o martírio por Cristo.
Estes são os seus nomes: Pedro Arakiyori Chobioye e Susana, esposos; João Tanaka e Catarina, esposos; João Nagai Naisen e Mónica, esposos, e seu filho Luís, criança.

Para minha alegria, o livro conta com detalhes a prisão e morte de 9 mártires (sendo 8 celebrados hoje), que fazem parte deste grupo de 205 beatificados por Pio IX, cujo martírio hoje completa 393 anos.
A obra, no Google Books, gratuita para download, está em espanhol. Segue tradução que fiz do Capítulo XXV (pág. 133 a 136), que trata desses mártires elogiados hoje no Martirológio. Os trechos entre colchetes são meus e não constam no original.

***

12 de Julho de 1626

Morte dos oito hospedadores dos padres Pacheco, Zola e de Torres em Nagasaki. 
Um feito maravilhoso de um deles. 
Morre na prisão Mâncio Araki.

Depois da morte dos nove religiosos, [Mizuno] Kawachi ordenou aos altos funcionários de Omura que enviassem a Nagasaki os hospedadores dos Padres, para que se executasse a sentença no dia 12 de julho. Eram eles os dois irmãos Mâncio e Matias Araki, que hospedaram o Pe. Pacheco; Pedro e Susana, sua esposa, que hospedaram o Fr. Gaspar; João Naisen, sua mulher [Mônica] e seu filho [Luís], que hospedaram o Pe. Zola; João Tanaka e sua mulher Catarina, que hospedaram o Pe. De Torres. Logo tiveram que sustentar cruéis combates para conservar-se na fé, especialmente as mulheres. 
Em favor da brevidade não entrarei em detalhes sobre os tratamentos bárbaros que sofreram; bastará dizer que Susana foi suspensa pelos cabelos numa árvore e exposta aos insultos do populacho por espaço de oito horas; que depois, juntamente com Mônica e Catarina, padeceu muitas vezes o horrível tormento da água; e que seus filhos foram maltratados em sua presença, o mesmo que seus domésticos; apesar de tudo isto, permaneceram inquebrantáveis em sua fé e foram, enfim, encerradas com seus maridos numa espantosa prisão. 
O estado de Mâncio, já consumido pela tuberculose, piorou de tal sorte, por consequência dos maltratos que sofria, que pelo fim de janeiro tinha o corpo inchado e padecia continuamente dores muito grandes: seus parentes, que eram pessoas importantes de Shimabara, pediram muitas vezes ao governador, oferecendo em garantia suas cabeças, para que ele saísse da prisão a fim de tratar-se noutro lugar, mas o bárbaro negou sempre e ainda acrescentou que deixaria o cadáver na prisão para que apodrecesse entre os prisioneiros e estes tivessem que sofrer sua vista e sua infecção. 
No dia 8 de julho expirou docemente o santo homem à meia-noite, em ternos colóquios com Deus, cheio de alegria e rodeado por seus companheiros que o apoiavam com suas práticas piedosas e cantando as orações da Igreja.
Três dias depois, foram levados à margem do rio os outros sentenciados para serem conduzidos a Nagasaki, em cuja travessia iam cantando salmos e ladainhas. 
Desembarcaram a uma légua e meia de Nagasaki e ali passaram a noite, consagrando-a em preparação para o martírio, continuando sua marcha a partir da aurora do dia 12 de julho. 
Todos iam a cavalo, com seus rosários na mão e cantando cânticos sagrados: um soldado levava nos braços o menino Luís, que tinha apenas seis anos, e outros dois levavam numa tábua o cadáver de Mâncio, pois os indignos funcionários quiseram que o cadáver fosse levado a Nagasaki, para atá-lo ao poste como se estivesse vivo e fosse queimado com os demais.
Os confessores da fé chegaram ao lugar das execuções pelo lado do mar, cantando as ladainhas e, atravessando uma multidão de gente que tinha corrido para vê-los, entraram no cerco ou paliçada. Os homens condenados ao fogo foram abraçar ternamente os postes em que deviam ser atados; e as mulheres, sentenciadas à decapitação, ajoelharam-se diante deles e rezaram em silêncio. O soldado que levava o menino Luís nos braços, colocou-o no chão, e o menino, que ainda não compreendia o que se preparava para os seus e para ele mesmo, correu até Mônica, sua mãe, para fazer-lhe carícias. Esta, temendo que sua coragem fraquejasse à vista de seu filho, rechaçou-o docemente com a mão, sem sequer olhar para ele, e então o menino entristecido voltou para o soldado. Mas João, seu pai, do poste em que estava amarrado, disse-lhe com um rosto amável: "Luís, consola-te; logo estaremos os três no paraíso". 
Os pais e mães despediram-se mutuamente e logo os verdugos sacaram suas espadas, e de um só golpe cortaram as cabeças de Catarina, de Susana e de Mônica, que as apresentaram com intrepidez. Luís, que começou a chorar e soluçar ao ver sua mãe morrer, foi imediatamente decapitado. 
Todos os assistentes, penetrados de compaixão, derramavam lágrimas, enquanto os quatro heróis cristãos, atados aos postes, em alta voz bendiziam a Deus por este triunfo, chamavam bem-aventuradas mil vezes a essas almas, e lhes rogavam que do Céu lhes alcançassem uma igual coragem, para que logo fossem reunir-se com elas.
Então os verdugos atearam fogo à fogueira, e os mártires elevaram ao céu os olhos e o coração. O cruel [João] Heizo [Suetsugu] tinha feito molhar a lenha no mar para que queimasse com dificuldade, e para que assim o suplício fosse mais lento e doloroso. Uma espessa fumaceira levantou-se rapidamente e ocultou as vítimas, porém se ouvia que bendiziam a Deus. 
Em seguida brotou o fogo, as chamas se elevaram e as cordas que atavam a João Tanaka se queimaram. Então Deus fez brilhar um milagre de seu poder nesse homem ancião, pobre, nascido em região selvagem, e cuja ciência limitava-se às verdades salutares que os Padres lhe haviam ensinado, especialmente o Padre De Torres, que se alojava em sua casa. João, vendo-se desatado do poste, atravessou as chamas que o queimavam por todos os lados e foi abraçar o corpo de Mâncio, morto na prisão quatro dias antes que a raiva dos perseguidores lhe fizessem consumir na fogueira. Depois dirigiu-se a Matias, irmão de Mâncio, a Pedro e a João Naisen, que ainda estavam vivos. E parado diante de cada um, inclinou-se em sinal de respeito e devotamente beijou-lhes as mãos. E como se ele estivesse queimado somente pelo fogo do amor divino, parecia cheio de gozo à vista da coragem heróica de seus companheiros, admirava-os e dizia ao aproximar-se deles: "Ó, que rosto tão alegre! Como é belo!" A multidão que se apinhava ficou surpreendida com tão extraordinário prodígio, e todos, até os próprios pagãos, davam gritos de admiração. Somente Heizo, esse indigno apóstata, transbordava de raiva. 
O santo ancião, logo que acabou de saudar e de abraçar ternamente a seus quatro companheiros, voltou para o seu poste, abraçou-o estreitamente em sinal de seu grande afeto, e permaneceu assim imóvel, até que juntamente com ele caiu estendido no chão. Não voltou a falar, e ficou com os braços e os olhos elevados para o céu até exalar o último suspiro. Seus companheiros, imóveis entre as chamas, e com uma admirável serenidade no rosto, expiraram um após o outro. 
Desta sorte os nove [Mâncio, Matias e seus sete companheiros] foram para o Céu abraçar os nove religiosos queimados no mesmo lugar vinte e dois dias antes [como consta no Elogio do Martirológio Romano de 20 de junho], e dos quais foram discípulos e benfeitores. De novo aumentou-se o combustível da fogueira para reduzi-los às cinzas, que foram dispersadas em alto mar.

***

Que o testemunho destes gloriosos mártires, fiéis leigos japoneses, esposos, pais e uma criança, nos interpele a uma maior fidelidade ao Santo Evangelho!
Bem-aventurados mártires deste dia, rogai por nós e rogai pelo Japão!

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