A Liturgia do séc. II segundo São Justino

São Justino nasceu por volta do ano 114 na cidade de Flavia Neapolis, na Samaria. Após percorrer vários sistemas filosóficos, encontrou no Evangelho a única filosofia certa e segura, o único caminho para a salvação. Depois, já como seguidor do Senhor, fez várias viagens para pregar o evangelho e defender os cristãos. Passou em Éfeso e viveu um tempo considerável em Roma. Recebeu a coroa do martírio por volta do ano 165, no império de Marco Aurélio.

Apologia I, Cap. LXV - Administração dos sacramentos

Nós, depois de assim termos lavado aquele que se convenceu e aderiu ao nosso ensinamento, trazemo-lo ao lugar em que os que são chamados irmãos são congregados, para que possamos oferecer cordiais orações por nós mesmos mesmos e pela pessoa batizada [iluminada], e por todos os outros em todo lugar, para sermos achados dignos, agora que aprendemos a verdade, por nossas obras e também sermos achados como bons cidadãos e guardas dos mandamentos, para que possamos ser salvos com uma salvação eterna. Terminadas as orações, nós nos saudamos com um ósculo. São trazidos, então, ao que preside os irmãos, pão e um cálice de vinho misturado com água; e ele, tomando-os, rende louvor e glória ao Pai do universo, pelo nome do Filho e do Espírito Santo, e dá graças por um tempo considerável por termos sido achados dignos de receber estes elementos de suas mãos. E quando ele conclui as orações e ações de graças, todos os presentes expressam seu assentimento dizendo Amém. Esta palavra Amém, corresponde no hebraico a 'genoito' [assim seja]. E quando o presidente deu graças, e todo o povo deu seu assentimento, aqueles que são chamados por nós de diáconos distribuem a cada um dos presentes um pouco do pão e do vinho misturado com água sobre os quais a ação de graças foi pronunciada, e também levam uma porção aos que estiveram ausentes.

Cap. LXVI - Sobre a Eucaristia

E este alimento é chamado entre nós de 'eucharistia', do qual ninguém pode participar a não ser que creia que o que ensinamos é verdade e que tenha sido banhado com o banho para a remissão dos pecados e da regeneração, e que viva como Cristo mandou. Pois nãos recebemos estas coisas como pão e bebida comuns, mas assim como Jesus Cristo, nosso Salvador, se fez carne pela palavra de Deus, e assumiu carne e sangue para nossa salvação, assim aprendemos que a comida abençoada pela oração de sua palavra, e pelos quais nosso sangue e nossa carne são curadas por transmutação, são a carne e o sangue deste Jesus que se fez carne. Sobre o que os apóstolos, nas memórias compostas por eles, que são chamados Evangelhos, têm nos legado o que lhes foi ordenado; que Jesus tomou o pão, e quando deu graças disse "Fazei isto em memória de mim, isto é o meu corpo” e que depois, da mesma maneira, tendo tomado o cálice e dado graças, disse “Isto é o meu sangue” e o deu a eles. E isto os malvados demônios imitaram nos mistérios de Mithras, mandando que se fizesse o mesmo. Pois, o pão e um cálice com água são colocados com certos encantamentos nos ritos místicos dos que estão sendo iniciados, você bem sabe ou pode chegar a aprender.

Cap. LXVII - Culto semanal dos Cristãos

E nós continuamente nos recordamos dessas coisas. E os abastados ajudam os necessitados; e sempre estamos unidos; e por todas as coisas com que somos providos, bendizemos o Criador de tudo através de seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo. E no dia chamado "do sol" [domingo], todos os que moram nas cidades ou nos campos se reúnem num mesmo lugar, e as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profeta são lidos, de acordo com o que o tempo permitir; então, quando o leitor termina, o presidente instrui com palavras, e exorta à imitação de tão bons conselhos. Então todos nós nos levantamos juntos e rezamos, e, como temos dito, quando nossa oração termina, pão e vinho e água são trazidos, e o presidente, de modo parecido, oferece orações e ações de graças, de acordo com a sua capacidade, e o povo dá seu assentimento, dizendo Amém; e há uma distribuição a cada um, e uma participação naquilo sobre o que foi dada a ação de graças, e aos ausentes uma porção é levada pelos diáconos. E os que se sentem bem e dispostos para o fazer, dão o que consideram adequado; e o que é coletado é depositado diante do presidente, que socorre os órfãos e as viúvas e aqueles que, pela doença ou outra causa, estão em necessidade, e os que estão cativose os estrangeiros que estão hospedados entre nós, e, numa palavra, cuida de todos que precisam. Mas o Domingo é o dia em que todos observamos a reunião comum, porque é o primeiro dia em que Deus, tendo criado uma mudança nas trevas e a matéria, fez o mundo; e Jesus Cristo, nosso Salvador, no mesmo dia ressurgiu dos mortos. Pois ele foi crucificado no dia anterior ao "de Saturno" [sábado]; e no dia após o "de Saturno", que é o "dia do sol", aparecendo aos seus apóstolos e discípulos, ensinou estas coisas, que temos mandado a você igualmente para sua consideração.

Fonte: São Justino, Apologia I in SCHAFF, Philip. The Apostolic Fathers with Justin Martyr and Irenaeus. CCEL.
Traduzido do inglês por Luís Augusto - membro da ARS

Obs: acho que a tradução não ficou muito legal, mas quis postar logo. Podem conferir mais no Catecismo da Igreja e na Antologia dos Santos Padres.

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