O fim do Ano Litúrgico na Forma Extraordinária
Pax et bonum!
Muitos fiéis que, hoje em dia, convivem majoritariamente ou unicamente com o Calendário Romano Geral reformado, ou seja, que tomam parte na Liturgia em igrejas e capelas em que se celebram a Santa Missa e o Ofício Divino na Forma Ordinária do Rito Romano (quase todas as paróquias do Brasil e do mundo), estranham o Ano Litúrgico terminar com um domingo "verde", de "tempo comum", "per annum", "depois de Pentecostes", na Forma Extraordinária. Na verdade, este foi o caso universalmente na Igreja de Rito Romano por séculos.
Acontece que na Forma Ordinária, a 33a ou 34a Semana do Tempo Comum (que é a última do ano), começa, no domingo, pela Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Esta Solenidade, porém, foi instituída por Pio XI em 1925, que mandou ser celebrada no último domingo de Outubro.
Depois de Pentecostes, porém, há domingos "verdes", como os do "Tempo Comum", como chamamos no Brasil, inclusive o último, que dá início à última semana do Ano Litúrgico.
Leiamos um pouco do que o Servo de Deus Dom Prosper Guéranger, OSB, autor da monumental obra L'Année Liturgique, escreveu sobre o 24o e Último Domingo depois de Pentecostes, celebrado, neste ano, ontem (24/11/2019). A tradução livre abaixo, do francês, é nossa.
O número de domingos depois de Pentecostes pode ultrapassar 24 e elevar-se até 28, dependendo da Páscoa aproximar-se mais ou menos, nos diversos anos, do equinócio da primavera. Mas a Missa que segue é sempre reservada para o último, ocupando-se o espaço com as missas, mais ou menos numerosas, dos domingos depois da Epifania, que, no caso, não foram usadas no começo do ano. Isto, todavia, diz respeito exclusivamente às orações, epístolas e evangelhos, pois o intróito, gradual, ofertório e comunhão são até o fim os mesmos do vigésimo terceiro domingo.
Viu-se que esta Missa do vigésimo terceiro domingo era realmente considerada por nossos pais como a última do Ciclo. O Abade Rupert revelou-nos o profundo sentido de suas diversas partes. Segundo a doutrina em que tivemos ocasião de meditar anteriormente, a reconciliação de Judá aparece-nos como o termo, no tempo, das intenções divinas; as últimas notas da santa liturgia chegam a se confundir com a última palavra, para Deus, da história do mundo. A meta buscada na criação pela Sabedoria Eterna, e misericordiosamente perseguida na redenção depois da queda, é com efeito plenamente atingida agora, pois esta meta não é outra que a união divina com a humanidade reunida num só corpo. Agora que os dois povos inimigos, o gentil e o judeu, foram reunidos num só homem novo em Jesus Cristo, seu Chefe, os dois Testamentos, que marcaram tão profundamente entre os séculos a distinção dos tempos antigos e novos, desaparecem para dar lugar aos esplendores da eterna aliança.
A Igreja cessava aí, outrora, a marcha de sua liturgia. Ela estava satisfeita por ter levado seus filhos, não apenas a penetrar desta maneira o desenvolvimento completo do pensamento divino, mas ainda e sobretudo a unir-se assim numa verdadeira união com o Senhor, por uma comunhão real de visões, de interesses e de amor. Ela também nem se voltava para o anúncio da segunda vinda do Homem Deus e do Julgamento Final, de que tinha feito, no tempo do Advento, o objeto de suas meditações no início da via purgativa. É somente depois de alguns séculos, pensando em dar ao ciclo uma conclusão mais precisa e mais assimilável pelos cristãos de nossos dias, que ela o termina pelo relato profético da impressionante chegada do Senhor, que fecha os tempos e inaugura a eternidade. Estando São Lucas, desde tempos imemoriais, encarregado de anunciar nos dias do Advento esta terrível chegada, foi escolhido o Evangelho de São Mateus para o descrever de novo, e mais longamente, no último domingo depois de Pentecostes.
Abaixo, para meditação ainda durante os dias desta semana, os textos próprios da Missa do dito Domingo, segundo a tradução do Missal de Dom Beda Keckeisen, OSB (edição de 1947):
Intróito
Assim diz o Senhor: Meus pensamentos são de paz e não de aflição. Clamai por mim e eu vos ouvirei. Reconduzir-vos-ei de vosso cativeiro, de todos os lugares.
Abençoastes, Senhor, a vossa terra; livrastes Jacó od cativeiro.
Glória ao Pai...
Coleta
Excitai, Senhor, nós vos suplicamos, as vontades de vossos fiéis, a fim de que, procurando com mais fervor o fruto das obras divinas, mereçam de vossa misericórdia maiores remédios.
Epístola (Aos Colossenses 1,9-14)
Irmãos: não cessamos de orar a Deus por vós, e de pedir que tenhais pleno conhecimento de sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual: para que possais andar de uma maneira digna de Deus, agradar-lhe em tudo, frutificar em toda boa obra, e crescer no conhecimento de Deus; fortalecidos em toda a virtude pelo poder de sua glória; em toda a paciência, longanimidade e alegria; rendendo graças a Deus Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos Santos na luz. Ele nos tirou do poder das trevas e nos transportou ao Reino do seu Filho amado, por cujo Sangue temos a redenção dos pecados.
Gradual
Vós nos livrastes, Senhor, dos que nos afligiam e confundistes os que nos odiavam.
Em Deus nos gloriamos todo o dia, e louvamos eternamente o vosso Nome.
Aleluia
Aleluia, aleluia.
Das profundezas do abismo clamei a vós, Senhor! Senhor, atendei à minha oração. Aleluia.
Evangelho (Segundo Mateus 24, 15-35)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Quando virdes no lugar santo os horrores da desolação, que foi predita pelo profeta Daniel, quem ler, entenda. Então os que estiverem na Judeia fujam para os montes; e o que se achar no terraço, não desça para ir buscar coisa alguma de sua casa; e o que estiver no campo, não volte para tomar a sua túnica. Ai porém das mães e dos seus filhinhos naqueles dias! Rogai, pois, que a vossa fuga não seja nem no inverno, nem em dia de sábado. Porque haverá grande aflição, qual nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. E se esses dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria; mas por causa dos Eleitos, serão abreviados esses dias. Então se alguém vos disser: Aqui está o Cristo, ou Ele está ali, não lhes deis crédito. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes prodígios e milagres, que, (se possível fora) até os Eleitos enganariam. Vede que já vo-lo predisse. Se, pois, vos disserem: Ei-lo, está no deserto, não saiais. Ei-lo aqui, no interior da casa, não lhes deis crédito. Porque, como o raio parte do oriente e é visível até o ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. Onde quer que esteja o cadáver, aí se ajuntarão as águias. Logo após a tribulação daqueles dias, o sol se escurecerá, a lua não dará mais a sua luz, a estrelas cairão do céu, e as forças do céu serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. E enviará seus Anjos com forte clangor de trombetas e reunirão os eleitos dos quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. Da figueira aprendi pois, uma comparação. Quando seus ramos já estão tenros e as folhas brotam, sabeis que já está próximo o verão, assim também quando virdes todas estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas se cumpram. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
Ofertório
Das profundezas do abismo eu clamo a vós, Senhor! Senhor, atendei à minha oração.
Das profundezas do abismo, eu clamo a vós, Senhor.
Secreta
Senhor, sede propício às nossas súplicas e, recebendo as ofertas e orações de vosso povo, convertei a vós os nossos corações, para que, livres dos gozos terrestres nos elevemos aos desejos do céu.
Comunhão
Em verdade vos digo: tudo o que pedirdes em vossa oração, crede que o recebereis, e vos será feito.
Pós-Comunhão
Concedei, Senhor, vos rogamos, que estes santos Sacramentos que recebemos, por sua força salutar curem quanto houver de vicioso em nossas almas.
Boa semana a todos!
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