Os passos da reforma litúrgica pós-conciliar - "Quo vadis, liturgia?", um desabafo do Pe. Bugnini
Pax et bonum!
Nesta nossa série de postagens, estamos dois anos após a promulgação da Sacrosanctum Concilium e cerca de um mês antes da entrada em vigor do Ordinário da Missa "renovado", segundo a Instrução Inter Oecumenici. Vimos a apresentação de janeiro e já vimos o próprio Ordinário, tal qual passou a ser, em seguida, utilizado no Brasil. Recordamos que o Concílio Vaticano II ainda estava a meses antes de ser concluído.
Pois bem, na metade de fevereiro de 65, o Pe. Bugnini que, lembremos, era secretário do Consilium, escreve algumas linhas no Notitiae, revista/jornal sobre assuntos litúrgicos que, atualmente, é bimestralmente editada pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Dada a brevidade do texto, nós o colocamos abaixo:
"Quo vadis, liturgia?"
Pe.
Annibale Bugnini, CM
Publicado no Notitiae do Consilium ad
exsequandam Constitutionem de sacra liturgia, de 15 de fevereiro de 1965.
Com muita frequência, em matéria
de liturgia, ouve-se falar coisas surpreendentes; nas revistas e jornais, lê-se
coisas surpreendentes; nas fotografias, vê-se coisas surpreendentes; nas
conferências, declarações, debates, diz-se coisas surpreendentes.
Com muita frequência, devo
confessar, meus cabelos se arrepiam (cf. Jó 4,15).
Aonde vais, liturgia? Ou melhor,
para onde vós conduzis a liturgia, ó especialistas da liturgia ou da pastoral?
Talvez, sem cair no conformismo,
esteja faltando resistir à tentação das "experiências". Tal tentação
vem certamente do "Maligno"; não é uma inspiração do alto.
A via segura, luminosa, larga e
espaçosa da renovação é indicada pela Igreja, pelo Pastor supremo; toda outra
via é falsa.
As publicações devem manter os
esforços de renovação sem cair na tentação de querer fazer ou dizer novidades
para atrair seus leitores, pois essas podem decepcioná-los, ao invés de
edificá-los.
Que todos, neste momento, e
particularmente os membros do Consilium,
tomem consciência de suas responsabilidades.
***
O panorama, que às vezes nos parece desolador hoje, teve início há décadas. Tais palavras causam certo espanto e vemos como a reforma desejada pelo Concílio estava sendo traída desde o princípio pela "tentação das experiências". O mal que alguns teimam em pensar que veio do Concílio, estava presente antes mesmo dele, e disso vemos um pouco em algumas opiniões combatidas na Encíclica Mediator Dei, de Pio XII, publicada em 1947.
Todavia, se em 1965 as "coisas" já eram negativamente "surpreendentes", o que se dirá das "coisas" de hoje?
Por Luís Augusto - membro da ARS
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