A terceira homilia do Pe. Anthony Brankin sobre o Summorum Pontificum
Pax et bonum!
Iniciamos as postagens deste terceiro bimestre com mais uma homilia do pároco estadunidense que tão bem se preocupou em explicar aos seus paroquianos o significado, a importância e as consequências da Carta Apostólica sob a forma de motu proprio Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI, que caminha rumo a um sexênio de sua publicação.
Esperamos que seja de bom proveito para nossos leitores.
[Os grifos são nossos.]
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Homilia sobre a Missa Latina - 3
Por Pe. Anthony Brankin,
Pároco da Paróquia Saint Odilo, Berwyn, Illinois,
da Arquidiocese de Chicago, Estados Unidos da América.
Traduzido por Luís Augusto Rodrigues Domingues.
Vocês me perdoarão por continuar o que basicamente se tornou uma pequena sequência [de homilias] sobre as recentes regras do Papa quanto a qualquer grupo ou padre poder, agora, celebrar a Missa Latina antiga - que ele chama de Missa do Papa João XXIII, mas eu devo continuar falando sobre isso. Penso nisso como algo gigante - porque isso tem algo incrivelmente importante a fazer com nossa vida de oração como católicos - e com a mais importante e poderosa oração que podemos fazer: a Missa.
Não há um só de nós que tenha vivido nos anos 60 que teria alguma vez predito que a Missa, tal como a conhecemos em nossa juventude, retornaria. Todos nós pensávamos que ela estava morta.
O mundo inteiro pensava que ela estava morta. Até o Papa, quando era Cardeal, disse que achou incrível como a forma mais antiga de celebrar a Missa era atualmente tão desprezada por algumas pessoas, e o Cardeal perguntava-se: como isso poderia ter acontecido - que a coisa que considerávamos nossa mais sagrada oração, a liturgia que nos definiu, fosse agora fora-da-lei e que se você gostasse da Missa antiga você era de certa forma desobediente e desleal à Igreja de Cristo?
E é verdade que o Papa enfrentou por meses os bispos americanos e franceses que eram absolutamente contra dar liberdade aos católicos de irem para esta missa.
Todos pensavam: como os bispos finalmente responderiam ao que o Papa estava planejando?
Bem, eu acho que este Documento é a resposta do Papa aos bispos, às suas falhas por mais de 40 anos em transmitir a fé, em manter a cultura católica da vida e da família, em fomentar as vocações e a devoção à Missa. O Papa [como que] disse mais ou menos: "Vocês tiveram 40 anos para fazer tudo funcionar - bem, aqui está minha resposta a vocês".
E eu tenho certeza de que o Papa está confiante de que muitas coisas boas virão a partir da Missa antiga sendo celebrada mais livre e abertamente. Muitas graças entrarão em nossas vidas e na vida da Igreja.
Primeiramente, haverá uma boa influência sobre a forma com que nós, padres, e o povo celebramos a nova Missa - a Missa de Paulo VI. Pela celebração ocasional da Missa antiga nós entenderemos mais claramente que há algo de especial com todas as missas, que elas não são [apenas] um culto que consiste de canções, homilias e orações unidos numa ordem.
Aprenderemos muito sutilmente que a Missa não tem a ver com o sermão - embora tenha que ser bom; não tem a ver com a música - embora também tenha que ser boa. Quando vez ou outra celebrarmos a antiga Missa em latim com todos voltados para a mesma direção, com uma centena a mais de genuflexões, sinais da cruz, bênçãos e beijos no altar, nós aprenderemos que a Missa é um ato objetivo de adoração, [que está] além do padre, além do povo, uma cerimônia estabelecida na qual o Filho de Deus desce sobre nossos altares e traz presente - de 2000 anos atrás - seu próprio Sacrifício.
Agora eu posso imaginar que há um monte de pessoas que pode dizer: "Missa em latim? Você só pode estar brincando! Ninguém mais sabe latim. Talvez ninguém nem o soubesse antigamente. Por que alguém iria querer fazer uma celebração numa língua que não entende? Nela não se pode ter a menor ideia do que está acontecendo".
Bem, é uma boa questão, exceto por falhar em saber que nós entendemos muitas coisas em nosso mundo sem que se envolva a nossa língua falada. Precisamos de um informativo para entendermos a Quinta Sinfonia de Beethoven? Um concerto de piano [com as composições] de Chopin seria melhor se houvesse palavras?
Por quê a Capela Sistina não tem aqueles balões dos quadrinhos sobre as cabeças dos santos para nos dizer o que se passa? Porque nós não precisamos sempre da nossa língua para entender alguma coisa. Nós precisamos de luz e escuro, som e silêncio, movimento e repouso. Não precisamos de uma tradução linha por linha da Missa. Tudo que precisamos saber é que de alguma forma Cristo se deu a nós como nosso Sacrifício e que se deu a nós como nosso Alimento. São os gestos e movimentos, os sons e visões que no-lo dizem - e talvez mais seguramente que as próprias palavras.
Latim, inglês, espanhol, boêmio - isso não faz uma diferença -, as palavras agem como um veículo para o real movimento [que acontece] na Missa, que é o nosso coração sendo transportado - em certo sentido - sem palavras, através do coração do padre até o próprio coração de Deus. Coração fala ao coração.
E a prova de que a Missa é mais profunda que as palavras é que aquela forma de celebrar a Missa nutriu uma sociedade católica inteira por séculos e séculos. Meus pais iam àquela Missa - bem como meus avós e bisavós - e assim foi por milênios. Meu povo falava irlandês e italiano antes de falar inglês. E a última vez em que alguém da minha família falou latim foi lá por volta da queda do Império Romano: mas eles não tiveram problema em entender tão profundamente o que se passava na Missa. Tinha a ver com Jesus e eles.
Eu não tenho dúvidas de que minha vocação urgiu enquanto eu servia naquela Missa em Santa Rita. E eu não sabia latim nem um pouco melhor que a criança da 5ª série perto de mim, mas eu amava a Missa e queria ser padre.
Nós sabemos que as vocações de milhões de jovens ao sacerdócio, e de mulheres para a vida consagrada, foram nutridas nesta Missa - não obstante o fato de eles realmente não saberem latim.
Numa última análise, ninguém precisa ouvir ou entender o significado literal de toda palavra ou de qualquer palavra. Basta saber que de alguma forma Cristo é oferecido de uma maneira incruenta pelo bem de nossas almas. Se vocês souberem isso, sabem tudo sobre o que a Missa é.
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