De que lado deve ficar o Ambão?

Pax et bonum!

Amados irmãos, iniciamos, enfim, o tempo favorável da Quaresma.
Após vários dias sem novas postagens, retornamos hoje para uma dúvida comum: "De que lado deve ficar o Ambão"? Esta dúvida pode estar presente na construção ou reforma de igrejas e capelas, bem como na organização de celebrações que devam ocorrer em áreas abertas, fora de uma igreja.
Para sermos objetivos, e estando a falar da Liturgia romana segundo sua Forma Ordinária, utilizada na imensa maioria das paróquias brasileiras, analisemos os documentos que possivelmente se referem a isto:
1. Constituição Sacrosanctum Concilium
2. Instrução Inter Oecumenici
3. Instrução Geral sobre o Missal Romano
4. Rito de Bênção do Novo Ambão
5. Respostas da Congregação para o Culto Divino publicadas em Notitiae

1. Sacrosanctum Concilium
A Constituição do Concílio, por mais que fale da importância da Palavra de Deus e peça que os tesouros da Sagrada Escritura estejam mais abertos para os fiéis (cf. n. 51), nada fala sobre o lugar físico, geográfico, topográfico, da proclamação da Palavra que, até o momento, nas Missas não solenes, era feita diretamente do altar ou, nas Missas solenes, de frente para o altar, o "oriente simbólico" (leitura da Epístola), com o livro segurado pelo subdiácono, e de frente para o "norte simbólico" (leitura do Evangelho), que correspondia ao lado esquerdo de quem estava voltado para o altar, com o livro segurado pelo subdiácono e a leitura sendo feita pelo diácono - é esta a prática que permanece na Forma Extraordinária do Rito Romano.

2. Inter Oecumenici
A primeira Instrução da Reforma, a partir do Concílio, manda as leituras serem feitas de frente para os fiéis, da entrada do santuário (=presbitério) ou do ambão, nas missas solenes; da entrada do santuário, do ambão ou do altar (se as leituras forem feitas pelo celebrante), nas missas não solenes (cf. n. 49-50). Pelo que se entende, aqui é o primeiro lugar onde se cita a possibilidade do ambão, do qual já não se fazia uso na igreja latina há séculos.
Nela se diz que deve haver um ambão ou mais (cf. n. 96), na igreja, disposto de forma que os fiéis possam ver e ouvir o ministro. Este deve ficar de frente para os fiéis, mas não se diz, por exemplo, em que lado ele deve ficar ou se deve ser fixo ou móvel.

3. Instrução do Missal Romano
Aqui, já concretamente dentro do contexto da Forma Ordinária, a Instrução diz que, nas Missas com o povo, as leituras são sempre proferidas do ambão (cf. n. 58). Diz também que o comentarista não pode desempenhar sua função no ambão (cf. n. 105).
Já na Missa com assistência de um só ministro (chamada antes de Missa sem o povo) fala-se que as leituras sejam proferidas, na medida do possível, do ambão (ambon, ex ambone) ou da estante (pluteus, ex pluteo) (cf. n. 260).
Mais adiante encontramos um número apenas sobre o ambão (cf. n. 309). Nele se diz que convém que seja uma estrutura estável e não uma simples estante móvel. Daqui, diferindo da Inter Oecumenici, entendemos que se manda a construção de apenas um ambão.
Ele deve ser um lugar condigno, pelo seu próprio propósito maior: a proclamação da Palavra de Deus. Em razão disso, o Missal lembra que é conveniente que ele seja abençoado antes de ser destinado ao uso litúrgico (cf. n. 309). Todavia, ainda não se fala de sua localização.

4. Bênção do Ambão
No Rito da bênção do novo ambão (infelizmente pouco conhecida e pouco realizada; pode ser conferida no Ritual de Bênçãos), recorda-se que o ambão deve ser:
- não uma simples estante móvel;
- estável;
- distinto pela sua dignidade.
Permite-se esta bênção para um ambão móvel, contanto que seja:
- realmente proeminente;
- apropriado à sua função;
- esteticamente elaborado.
Todavia, não se fala sobre sua localização.

Se levarmos em conta estes documentos, podemos afirmar que não há lugar (centro, esquerda ou direita da igreja, capela, basílica) fixo para o ambão.
Nas antigas basílicas de Roma podemos encontrar dois, sendo um voltado para o outro, no coro que fica entre o santuário e a nave.
Nas igrejas orientais a posição é central, sendo que se vê também a proclamação sendo feita sem ambão direto da porta central da iconostase.
Na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, o altar fica numa parede da capela, a cátedra na parede oposta e o ambão no centro.

Nossa última fonte é que nos traz uma resposta mais clara. Ela data do período de aplicação da reforma, antes da promulgação dos livros novos (que hoje chamamos de Forma Ordinária). Vejamos o que ela diz.

5. Respostas em Notitiae
Notitiae é a publicação da Congregação para o Culto Divino onde normalmente aparecem dúvidas enviadas de todo o mundo e suas respostas, bem como artigos e estudos.
Pois bem, na edição que abrange os meses de janeiro a abril de 1965, há a seguinte pergunta (n. 48):
"Vi uma Missa simples celebrada 'versus populum' em que a Epístola foi lida à direita do celebrante e o Evangelho à esquerda. Pergunta-se: tal prática é correta ou deveria ser feito da forma oposta, como nas antigas basílicas?"
A resposta vaticana é a que segue:
"Se há apenas um ambão, todas as leituras são proclamadas dele. Um único ambão pode ficar localizado tanto à direita como à esquerda do altar, como parecer mais oportuno de acordo com a estrutura da igreja e do santuário.
Se a igreja tem dois ambões, construídos de tal forma que um é maior para o Evangelho e outro é menor para a Epístola, as leituras são proclamadas de cada ambão, segundo o propósito de cada um.
Se, todavia, os dois ambões são iguais, ou se dois serão construídos, a Epístola deveria ser lida do ambão que fica à esquerda e o Evangelho do que fica à direita do celebrante quando este está em sua cadeira na abside da igreja, atrás do altar".
Considerando esta indicação à luz do Missal Romano (Forma Ordinária), pode-se dizer que a recomendação (sem força alguma de lei) é que o ambão fique no presbitério ou no limite entre este e a nave, como que do lado esquerdo da nave central, ou seja, à direita do celebrante (quando este está de frente para o povo), dado que o ambão deve ser apenas um e que se há de levar em conta o uso para o Evangelho, ponto mais alto da Liturgia da Palavra, e voltado para a nave central, onde se encontra a maior parte dos fiéis. Este é exemplo seguido e apresentado na maioria das liturgias papais e nas igrejas de Roma.
Era comum, nas liturgias papais das últimas décadas na Basílica de São Pedro, ser usada uma estante que ficava diante dos portões da Confissão (a área central diante e abaixo do altar-mor, onde ficam os restos mortais de São Pedro, Apóstolo). Em 2011, por ocasião do 60º aniversário de ordenação sacerdotal do Papa Bento XVI, um novo ambão foi instalado como homenagem. Este, então, passou a ser utilizado conforme dito acima, do lado esquerdo do povo, direito do celebrante estando "versus populum".
Esta recomendação se vê exemplificada nas imagens a seguir:
Ambão numa das capelas da Basílica do Latrão
Ambão junto do altar da Cátedra na Basílica de São Pedro
Ambão na Capela Paulina, no Palácio Apostólico
Ambão junto do altar-mor da Basílica do Latrão
Ambão junto de um altar próximo à Cátedra da Basílica de São Paulo



Novo ambão da Basílica de São Pedro, desde 2011.
Esta foto mostra seu uso na Missa da Epifania do Senhor deste ano de 2014,
celebrada pelo Santo Padre, o Papa Francisco.

Por Luís Augusto, membro da ARS

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