Entrevista com uma monja carmelita de Teresina-PI

Pax et bonum!

Às vezes procuramos tesouros distantes quando estes estão próximos.
No final do ano, aconteceu que uma monja do mosteiro carmelita (OCD - Ordem do Carmelo Descalço) de nossa cidade, Teresina-PI, teve que passar vários dias "aqui fora", para cuidar de sua mãe.
Originalmente ela morava no mesmo bairro que eu e fez parte de um mesmo grupo. Sua amizade fez-me conhecer o Carmelo e enxergar a beleza da vida religiosa, bem como fez com que eu me admirasse ao ver quão grande é o patrimônio místico do ocidente católico. Sou muito grato por isso.
Aproveitando essa passagem prolongada desta monja aqui no "século", pedi-lhe que me respondesse um questionário, que viria a ser publicado como entrevista para o blog da ARS.
Não se trata de nada muito complexo, grandioso. Mas foi um interessante contato entre alguém da vida ativa e alguém da vida contemplativa e que, espero, seja de proveito.
As perguntas foram feitas no dia 29/12, mas só pude preparar a postagem recentemente. Que ela também sirva para despertar o interesse, sobretudo dos católicos teresinenses, em conhecer o único mosteiro cristão que temos em nossa cidade.

Ir. Teresa Maria da Santa Face, a monja entrevistada, em sua profissão de 2005.
1. Cara Irmã, primeiramente agradecemos por nos conceder este pequeno diálogo sobre a vida monástica e a Sagrada Liturgia.

Há quanto tempo a senhora ingressou no único mosteiro católico da capital do Piauí?
Ingressei na Comunidade do Carmelo de Teresina há  quase 10 anos. Mais precisamente no dia 3 de maio de 2003. 

2. Ainda que não corresponda a uma visão completa, num mundo neo-liberal, secularizado, laicista, consumista, anti-cristão e propagador de uma cultura de morte, o que é ser monge/monja?
Ser monja é ser um sinal profético da Vida futura! É anunciar com o testemunho silencioso que estamos à espera da Verdadeira Vida que havemos de alcançar na Ressurreição. É ser para o mundo um “sinal” de que este mundo passa! De que a nossa Pátria é o Céu!! O monge, não vive para si.
Ano passado houve um encontro para a Vida Monástica e Contemplativa de todo o Brasil, realizado pela CNBB e CRB. No final do encontro foi-nos deixada uma mensagem, e há nela um trecho que diz assim: Somos consagrados para responder ao olhar de amor do Senhor por todos nós.
E a Beata Elisabete, num trecho belíssimo de seu Ultimo Retiro nos diz: A Carmelita (a monja), é uma resgatada que, por sua vez, deve resgatar outras almas.

3. No vasto jardim da Igreja, o que dizer do Carmelo?
O Carmelo, como toda a vida contemplativa na Igreja, é um membro indispensável no Corpo místico de Cristo. Nossa missão é mostrar o valor e a importância da Vida de oração, e dela dar testemunho.

4. Mesmo na clausura, os monges não são ignorantes em relação à situação do "sæculum". No Carmelo, o que se faz pelo mundo?
No Carmelo se reza pelo mundo. Por ele, pela salvação das almas, buscamos viver com fidelidade o que a Igreja nos pede. E como Jesus, pedimos ao Pai que não se percam aqueles que o Pai lhe deu. (Jo 6, 39).

5. A vida monástica é pautada não só pela disciplina das regras e constituições de cada ordem, mas vive inteiramente, sobretudo, pelo "relógio" da Sagrada Liturgia. Como é a vida litúrgica no Carmelo?
Nós vivemos verdadeiramente a Liturgia de nossa Igreja. Primeiramente, porque rezamos com Ela todas as Horas do Ofício Divino. Depois, por que vivemos com intensidade cada tempo litúrgico. Iniciamos o novo ano com o Tempo do Advento, e neste tempo não recebemos visitas e procuramos viver ainda mais o silêncio, virtude esta praticada pela Virgem Maria. E na escola da Mãe de Deus, este se torna para nós um tempo de reflexão, de exercício na escuta amorosa da vontade de Deus, da prática dos pequenos atos de caridade, etc... E assim por diante. No Natal temos o costume de cantar para o Menino todos os dias da oitava e, antes da Festa do Batismo, temos a despedida do Presépio. E em cada Tempo, no Carmelo, temos um modo simples e profundo de vivenciá-lo, e me alongaria se fosse falar de cada um deles!

6. Na tradição espiritual de duas colunas da teologia mística católica (Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, santos e doutores do Carmelo descalço), como se constrói a ponte entre a prática da oração mental, silenciosa, solitária, e as Horas rezadas em coro, em comunidade? Como se relacionam?
Bem, o sino nos chama ao Coro sete vezes ao dia para a recitação dos Salmos e nossas Constituições nos pedem 2 horas de oração metal. Mas todo o nosso dia é de oração silenciosa (com exceção dos momentos de recreação). Santa Madre dizia: “Entre as panelas está o Senhor!”.  E no Livro da Vida, nos ensina que da Oração Vocal (como a recitação dos salmos), pode-se chegar à mais alta contemplação.

7. O liturgista beneditino Cipriano Vagaggini disse: "a liturgia, (...) mais que ensinar, se preocupa em sintonizar todo o homem concreto e imergi-lo num ambiente geral de oração e de dedicação a Deus"; também disse: "a liturgia não é somente, nem principalmente, o ensino de uma doutrina, mas um ato de culto, uma oração" e, por fim, "a liturgia tem por finalidade primária fazer o povo rezar e (...), se não chega a tanto, se torna esvaziada da sua verdadeira força". O que se procura fazer no Carmelo, particularmente nas celebrações abertas aos fiéis, para se alcançar este fim?
No Carmelo, a exemplo de nossos Fundadores, fazemos tudo na Presença de Deus, no espírito de oração e, então tudo o que fazemos tem este único fim: A união com Deus.
Nas celebrações abertas aos fieis, seja no canto, na oração recitada, no silêncio, desejamos que todos os que aqui chegam possam pessoalmente viver o encontro com o Senhor.
O Carmelo é o espaço para este Encontro. 

8. Hoje em dia parece finalmente aparecer a fugacidade de certas novidades, bem como brilhar com novo esplendor a durabilidade do legado das gerações dos séculos passados. Uma notícia bastante recente diz que o número de monjas de clausura no país é o maior desde o séc. XVIII; há um interesse cada vez mais crescente na Forma Extraordinária do Rito Romano (os ritos litúrgicos antigos, em vigor antes das reformas a partir do Concílio Vaticano II)! O que o Carmelo, com sua espiritualidade de séculos, sempre ofereceu e continua a oferecer hoje aos fiéis de vida ativa?
É realmente interessante notar este crescimento. Vejo isso como uma busca do que verdadeiramente “não passa”.  As pessoas estão percebendo aos poucos que a avalanche de novidades não preenche o coração. A espiritualidade de Santa Madre Teresa de Jesus e de nosso Pai João da Cruz, é sempre atual, por que vai na essência do homem. Na escola de Teresa aprendemos o caminho do conhecimento próprio e descobrimos que há em nós uma sede que só pode ser saciada em Deus, com a Vida de oração. 

9. Nos escritos do Doutor Místico, São João da Cruz, não há grandes referências à vida litúrgica. Mas em sua poesia, no cantar da alma que se alegra em conhecer a Deus pela fé, ele diz: "Aquela eterna fonte está escondida / Neste pão vivo para dar-nos vida, / mesmo de noite". Fale-nos sobre o Santo Sacrifício na vida de um monge.
A Santa Missa é o Centro, o Ápice de toda Liturgia e de nossa vida!
Todos os dias nos reunimos para a Celebração do Santo Sacrifício. 
E um fato interessante de se ressaltar, é que em nosso mosteiro, desde a Fundação no dia 19 de março e 1990 até o dia de hoje, nunca se passou um dia sem que houvesse a Santa Missa para a Comunidade. Sempre tivemos a graça de sermos assistidas por padres que com muito zelo e carinho trouxeram o céu a nós. 

10. A Nota da Santa Sé, com indicações para o Ano da Fé, diz que "as Comunidades contemplativas durante o Ano da Fé dedicarão uma intenção de oração especial para a renovação da fé no Povo de Deus e para um novo impulso na sua transmissão às jovens gerações". Estamos seguros de que vocês, do estimado Carmelo de Teresina, já estão a fazer isso por nós?
Sim. De modo particular num momento de Adoração ao Santíssimo, bem como no aprofundamento dos Documentos do Concílio e do Catecismo da Igreja Católica.

11. Gostaria de falar um pouco sobre o mosteiro de Teresina para os fiéis que ainda não o conhecem?
Este Carmelo foi fundado pelo Carmelo de Fortaleza, em março de 1990, a pedido de Dom Miguel, Arcebispo daquela época.
Hoje somos 18 irmãs.
Em julho de 2009 saiu daqui um grupo de 6 irmãs para a fundação de outro Carmelo em Natal-RN.
Graças a Deus, nunca nos faltaram vocações.
Para quem deseja conhecer nosso Carmelo e nossa Comunidade pode vir fazer-nos uma visita: 
Durante a semana, recebemos das 9h às 10h40 e, à tarde, das 15h às 16h40. 
Ou participar das missas: de segunda à sexta, Missa às 6h30. No sábado às 7h e no Domingo às 8h.
Nosso telefone para contato é: (86) 3227-1771/ 3211-7638/9904-0925
E-mail: carmelothe@hotmail.com; carmeloteresina@gmail.com


12. Muito obrigado, Irmã. O bom Deus, neste Santo Tempo do Natal, abençoe a senhora e as demais carmelitas de nossa cidade.
Eu também agradeço.


Visão da capela do mosteiro, localizado no bairro Angelim.

Por Luís Augusto, membro da ARS


Comentários

  1. gOSTARIA DE SABER SOBRE A SAÚDE DA MÃE DE NOSSA MISSIONÁRIA CARMELITA, POR FAVOR

    VIVELFA@HOTMAIL.COM

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  2. amei a entrevista eu adoro o carmelio

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