14 anos de Summorum Pontificum e os riscos atuais
Pax et bonum!
Salve Maria!
O histórico Motu Proprio de Bento XVI
Por ocasião deste 7 de julho de 2021, queremos agradecer a Deus e ao Papa Emérito Bento XVI por vivermos uma realidade litúrgica bastante diferente (pelo menos em muitas partes) da anterior a 2007. Referimo-nos à disposição legal estabelecida pelo Motu Proprio Summorum Pontificum, que afirmou que o Missal Romano editado em 1962 nunca foi ab-rogado e reconheceu aos sacerdotes católicos de rito latino a faculdade de utilizar o Missal Romano de 1962 ou o Missal Romano de 1970 (cuja última edição típica é a terceira, de 2002, com emendas em 2008) sem necessidade de qualquer autorização de seu Ordinário ou da Sé Apostólica (cf. Summorum Pontificum, art. 1 e 2).
A quem já estudava a questão da "paz litúrgica" desde antes do Summorum Pontificum, talvez não pareça já ter passado tanto tempo. Mas basta imaginarmos que hoje temos adolescentes (quiçá coroinhas) que nasceram já depois deste grande passo e que não viveram as grandes esperanças, frustrações e dificuldades anteriores pelo fato de não ter sido "respeitado o espírito de todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina" (cf. Ecclesia Dei, 6).
Todavia sabemos que a nem todos os fiéis está devidamente oferecida "a Liturgia Romana segundo o Usus Antiquior (uso mais antigo), considerada como um tesouro precioso a ser conservado" (cf. Universae Ecclesiae, 8). Na verdade, em muitos lugares a legislação não tem sido perfeitamente interpretada e aplicada "em sentido favorável aos fiéis, que são os seus principais destinatários" (idem).
Os rumores sobre os riscos iminentes
Pois bem, passados dois septênios, subentende-se que as disposições legais estabelecidas pelo Motu Proprio correm risco de ser alteradas, e tal alteração não parece ser em prol da liberdade, da segurança e da paz litúrgica.
Foi por volta de 24 de maio que alguns blogs começaram a divulgar boatos e rumores de que o Papa contou aos bispos italianos que ele planejava abolir o Motu Proprio Summorum Pontificum. As informações não seriam claras e não se sabia se, na verdade, se se tratava de restringir a aplicação do Motu Proprio ou mesmo fazer uma revisão geral do documento. Cogitou-se também a possibilidade de um novo texto tristemente ambíguo, que possa favorecer interpretações diversas. A dita conversa do Santo Padre com os bispos italianos ocorreu deveras no contexto da Assembleia da Conferência Episcopal Italiana.
Falou-se no provável retorno de uma política de indulto, em que seria novamente necessário obter autorização do Ordinário do lugar ou da Santa Sé.
Há quem diga que, dado o caráter de lei do Motu Proprio, seu texto não seria substituído, mas que haveria uma nova instrução a se sobrepor à Universae Ecclesiae, provavelmente conferindo mais autoridade aos bispos sobre esta matéria e mesmo impondo condições a sacerdotes de comunidades específicas para que possam celebrar nas igrejas de uma diocese. Receia-se até um relaxamento na proibição relativa à mistura de elementos de ambas as formas. Por outro lado também se encara a possibilidade de completas proibições (o que infelizmente não difere do que já ou ainda acontece em alguns lugares).
São temidas implicações nas comunidades religiosas e sacerdotais (e seus seminários) ligadas ao Uso mais antigo da Liturgia Romana, bem como possíveis ingerências que dificultem as missas dominicais em igrejas paroquiais.
Prevê-se uma operação em duas fases: uma, a ser implementada em poucas semanas (entre julho e agosto, possivelmente), relativa aos sacerdotes diocesanos e a celebração segundo os livros de 1962, e outra para daqui a alguns meses relativa às comunidades religiosas e sacerdotais ligadas à liturgia e a à disciplina anterior, a fim de que orientem melhor as suas obras, formação e vida espiritual às diretrizes do Concílio Vaticano II. Esta segunda teria como ponto importante uma reunião de superiores a ocorrer entre setembro e novembro em Roma, em que se trataria de um comprometimento estrito ao Concílio Vaticano II e em que seriam anunciadas algumas visitações futuras para avaliar a fidelidade a este comprometimento nas ditas comunidades. Ademais, dadas as repetidas palavras do Santo Padre sobre rigidez em certas formas de piedade e na formação de alguns seminários, acredita-se que os seminários serão um foco de atenção especial.
As linhas acima são de postagens originais alemãs do final de maio. Dias depois, no começo de junho, um sacerdote, supostamente muito conhecedor dos profundos segredos da vida eclesiástica em Roma, divulgou um texto em que aponta que muita coisa não mudaria para as comunidades e sacerdotes que já fazem uso do Missal de 1962, mas que novos sacerdotes que quisessem fazê-lo precisariam de permissão do bispo. Afirma-se que a responsabilidade sobre as comunidades Ecclesia Dei e o uso dos livros litúrgicos anteriores passará formalmente para a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Já perto do fim de junho, D. Roland Minnerath, arcebispo de Dijon, na França, falou aos fiéis de um grupo ligado à Missa na Forma Extraordinária que em dias ou semanas eles teriam "um novo motu proprio". A fala aparece em vídeo.
Afirma-se também que, a um grupo de cardeais, o Cardeal Parolin (Secretário de Estado) teria dito "Precisamos colocar um fim nessa Missa para sempre". Também se diz que D. Arthur Roche, bispo inglês, que de secretário passou a Prefeito da Congregação para o Culto Divino (nomeado em maio deste ano), falou a um grupo anglófono de responsáveis por seminários e outros membros da Cúria Romana: "Summorum Pontificum está praticamente morto. Devolveremos o poder aos bispos nesse assunto, mas não aos conservadores".
As informações acima nós transcrevemos praticamente todas de postagens do https://rorate-caeli.blogspot.com/, algumas das quais são traduções de cartas do http://fr.paix-liturgique.org/.
O que pensar e o que fazer
Já se diz por aí que a "galáxia Summorum Pontificum prepara-se para a resistência" e que "os inimigos do Summorum Pontificum querem guerra". Não parece útil alimentar um clima belicoso, mas é preciso ser prudente.
Aqui em Teresina, Piauí, muito se conseguiu. A Santa Missa na Forma Extraordinária está mais ou menos numa frequência quinzenal a mensal. É pouco diante de outros contextos do mundo em que bispos chegaram a erigir paróquias pessoais (como recentemente uma na Itália e outra na França), mas é o que temos e é o que conseguimos sobretudo pela oração, pela coragem e pela perseverança de algumas boas almas, a quem praza a Deus retribuir um dia na glória. Todavia aqui já se conseguiu algo inimaginável em inúmeras dioceses: o arcebispo celebrou a Missa na Forma Extraordinária. Sim! No dia 18 de setembro de 2020, D. Jacinto Furtado de Brito Sobrinho, arcebispo de Teresina, celebrou a Santa Missa com o Missal de 1962 no altar da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, realizando assim um gesto paterno diante tanto dos fiéis como dos sacerdotes do presbitério teresinense.
É verossímil, quiçá certo, portanto, que algo virá muito em breve, e que levantará questionamentos. As novas "regras" estarão de acordo com o espírito de misericórdia e tolerância tão apregoado na última década eclesiástica?
Parece-nos útil que os fiéis estreitem a relação filial com seus pastores e que os pastores reticentes vejam que os fiéis que aderem à Forma Extraordinária são bons, ardorosos, corajosos, bem dispostos, coerentes, cheios de boas obras. Os ditos "inimigos" do Summorum Pontificum não podem ser justificados em sua má intenção de destruir o que foi construído, mas muitas vezes as posturas e os comportamentos de muitos fiéis, que amam o apelido de "tradicionalistas", significaram pouco ou nada daquele sentido com que São Pio X empregou a dita palavra e antes serviu de pretexto para os adversários.
Há lobos e mercenários: isto é um fato. Contudo não é nada católica a visão de que o episcopado é inteiramente ou em sua maioria composto por inimigos. Isto não é, não foi e nunca será católico.
Rezemos pelo Santo Padre, rezemos pela Cúria Romana, rezemos por nossos bispos.
Valorizemos as celebrações que conseguimos. Estejamos presentes, promovamos, apoiemos financeiramente.
Sejamos santos e sejamos sábios ao dar as razões de nossas justas aspirações.
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