A oração pelos doentes

Salve Maria!

Neste início de ano, em que os números oficiais brasileiros nos apresentam milhares de mortos por dia por causa da COVID-19 (e aqui não queremos entrar no mérito dos órgãos que coletam e transmitem essas informações), seguem algumas reflexões sobre a doença (de um modo geral), baseadas no ensino da Igreja, e dois exemplos de orações litúrgicas pelos doentes, que nós leigos poderemos incluir no fim do terço, do Rosário, das Horas, etc. 

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Para o homem de fé, lançando um amplo olhar sobre o Antigo e o Novo Testamento, a doença, como ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (cf. n. 313-314), faz-nos experimentar nossos limites, está misteriosamente associada ao pecado, tem valor redentor em relação aos nossos próprios pecados e, unida à Paixão de Cristo, pode ser meio de purificação e de salvação para nós e para os outros.

Este ensinamento da Igreja já bastaria para que a humanidade vivesse a atual pandemia de uma maneira totalmente diferente. O Ritual Romano, no texto preliminar ao rito da Unção dos Enfermos, diz que a luz da fé ajuda o homem a compreender e suportar o mistério do sofrimento. E aponta a predileção que o Salvador teve pelos enfermos, os quais visitou e curou várias vezes (cf. Unção e Pastoral dos Doentes, Preliminares, 1)

Nosso Senhor curando a sogra de São Pedro

"A Igreja, tendo recebido do Senhor a ordem de curar os enfermos, procura pô-la em prática com os cuidados para com os doentes, acompanhados da oração de intercessão" (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 315). Sua Liturgia, e falemos especificamente do Rito Romano, contempla os enfermos de forma especial em dois contextos: um sacramento e um sacramental, isto é, a Unção dos Enfermos ou Extrema Unção e a Bênção dos Enfermos, respectivamente. Ambas as ocasiões dão-se numa visita ao enfermo. Recordemos que a quinta das sete obras de misericórdia corporais é exatamente "Visitar os enfermos", à imitação do que Cristo e os Apóstolos fizeram tantas vezes. Aliás, segundo o ensino da Igreja (cf. Idem, 454), "servir os doentes" está entre as boas finalidades do dia de domingo.

As bênçãos "significam sempre efeitos principalmente espirituais, que se alcançam graças à súplica da Igreja" (cf. Celebração das Bênçãos, Preliminares Gerais, 10). A Unção, enquanto sacramento, confere ao doente uma "uma peculiar graça de Deus para que não perca o ânimo na aflição, nem, pela força das tentações, venha a fraquejar na fé", que pode fazê-lo "suportar com fortaleza os males, mas ainda vencê-los e obter a própria saúde corporal, se essa lhe aproveitar à salvação da alma" (cf. Unção e Pastoral dos Doentes, Preliminares, 5-6).

No que diz respeito à bênção dos enfermos, o Ritual Romano "reformado por Decreto do Concílio Ecumênico Vaticano II" permite que ela seja dada também por um leigo.

No atual contexto de pandemia de COVID-19, é impossível não levantar certas restrições mesmo às obras de misericórdia, nomeadamente a visita aos doentes. Todavia, todos nós podemos e devemos, no mínimo, implorar de Deus o fim da pandemia, alívio para os que estão sendo afligidos pela doença (hoje, 18/01/21, no Brasil, mais de 850.000 casos em acompanhamento) e salvação eterna para aqueles que o Senhor chamou para si (até hoje, igualmente, cerca de 210.000 almas).

No ano passado, a Penitenciaria Apostólica, na Solenidade de São José (19/03/2020), Esposo da Bem-aventurada Virgem Maria, publicou um Decreto com indulgências especiais relativas a estes nossos tempos difíceis. O texto do Decreto encerra bons e perenes ensinamentos que devem ser recordados, a começar pela afirmação de que esta pandemia "deve ser vivida em espírito de conversão pessoal".

Uma das concessões é exatamente "àqueles fiéis que oferecerem uma visita ao Santíssimo Sacramento, ou a adoração eucarística, ou a leitura da Sagrada Escritura durante pelo menos meia hora, ou a recitação do Santo Rosário, ou o exercício piedoso da Via-Sacra, ou a recitação do Rosário da Divina Misericórdia, para implorar de Deus Todo-Poderoso o fim da epidemia, alívio para os aflitos e salvação eterna para aqueles que o Senhor chamou a si". Desta forma, podemos ser contados entre aqueles que cuidam dos doentes, pois sobre tal cuidado o Decreto diz: "inclusive através da oração".

Entende-se, portanto, que nós leigos podemos e devemos aproveitar estes exercícios de piedade em prol de nossos irmãos. Além deles, as próprias orações permitidas ao leigo recitar na Bênção dos Enfermos (Forma Ordinária do Rito Romano) são uma boa opção e a elas se refere o início deste texto, ao dizer que podemos incluí-las no final de outros exercícios de piedade, principalmente, propomos, no final da recitação das Horas Canônicas.

À oração comum pelos enfermos e à encomendação de suas vidas ao Senhor alia-se mesmo a exortação aos irmãos doentes para que livremente se associem à Paixão de Cristo e, assim, contribuam para o bem da Igreja. As Preliminares da Celebração da Unção dos Enfermos chegam a lembrar que aos cristãos que padecem enfermidade compete "não só despertar nos outros, com o seu testemunho, a lembrança das coisas essenciais e superiores mas também mostrar que a vida mortal dos homens deve ser salva pelo mistério da morte e ressurreição de Cristo" (cf. Unção e Pastoral dos Doentes, Preliminares, 3). Que nobre missão esta de todo cristão que, nessa época nebulosa, por exemplo, padece da COVID-19, quer com sintomas leves, moderados ou graves! Será que todos eles estão cientes disso? Obviamente isto vale para todo o imenso leque de doenças que se abre no meio da humanidade.

[Se você, caro leitor, exatamente agora enquanto lê estas palavras, está com COVID-19, tome ciência de seu dever e viva a enfermidade como bom fiel de nosso Senhor Jesus Cristo!]

Manifestemos, pois, a solicitude e a caridade de Cristo e da Igreja pelos irmãos enfermos rezando por eles.

Para vários doentes ou pelos doentes em geral

Pelo vosso amor infinito, salvai-nos, Senhor nosso Deus, que sempre velais piedosamente pela obra das vossas mãos. Confortai com o vosso poder divino [estes] vossos servos doentes, curai as suas enfermidades e fazei que alcancem felizmente a consolação que de vós esperam. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Por um doente

Senhor, Pai santo, Deus eterno e onipotente, que animais e fortaleceis com a vossa bênção a nossa frágil condição humana, olhai com bondade para [este] vosso servo doente N., de modo que, vencendo a enfermidade e recuperando a saúde, possa bendizer o vosso santo nome com renovada alegria e gratidão. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, unidade do Espírito Santo. Amém.

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