A quarta homilia do Pe. Anthony Brankin sobre o Summorum Pontificum


Pax et bonum!

Estamos na VII Semana do Tempo Comum (Forma Ordinária) e na Oitava de Pentecostes (Forma Extraordinária); findou o grande Tempo Pascal.
Finda também, com esta postagem, a série de homilias do Pe. Anthony Brankin, de Illinois, nos EUA, sobre o motu proprio Summorum Pontificum.
Esta carta apostólica está perto de completar seus 6 anos de publicação e, se muita coisa não mudou no clero, embora o número de celebrações na Forma Extraordinária tenha aumentado e continue a aumentar, muitos fieis leigos atualmente desejam conhecer esta forma da Missa e certamente desejariam que sumissem as invenções que enfraquecem a liturgia como espaço privilegiado da profissão de fé. Se antes a "Missa antiga" era apenas motivo de chacota, uma imagem que remontava aos tempos de pais e avós, tabu, hoje se torna até imagem de fundo para mensagens católicas nas redes sociais, e são compartilhadas por muitas pessoas, até mesmo não tão abertas ou respeitosas para com este tesouro precioso que deve ser conservado. Tudo isto, porém, ainda é muito pouco.
Esperemos que mais esta leitura ajude pastores e ovelhas a compreenderem o bem que poderemos haurir ao amarmos, venerarmos e vivermos a liturgia em sua forma mais tradicional. Afinal, como dizia Santo Irineu de Lião, é necessário amar com extremo amor tudo que é da Igreja.

***
Homilia sobre a Missa Latina - 4
Por Pe. Anthony Brankin,
Pároco da Paróquia Saint Odilo, Berwyn, Illinois,
da Arquidiocese de Chicago, Estados Unidos da América.
Traduzido por Luís Augusto Rodrigues Domingues.

Pe. Anthony, o autor das quatro homilias
Vocês vão me perdoar se eu passar mais um domingo [focado] na nova permissão que o Papa deu para a celebração da Missa Latina antiga - que ele chama de Missa de João XXIII. Simplesmente não posso relegar isto às notícias das últimas semanas.
Junto com o ensinamento cada vez mais claro de que a Igreja Católica é a Única Verdadeira Igreja de Cristo, esta permissão para a Missa Latina definirá para todos os tempos o papado do Papa Bento XVI.
É também algo que muito espero, que nós em Saint Odilo, num futuro próximo, possamos estar capazes de trazer de volta esta Missa com certa regularidade e toda a sua beleza.
Penso que seria maravilhoso para a vida desta paróquia e para a vida espiritual de toda esta área. Nós poderíamos ser um centro do melhor da tradição católica, do melhor do culto católico, do melhor da música e da arte católicas. E tudo isto se tornaria um ímã para trazer as pessoas a Cristo. Não é para isso que estamos aqui? É para ficarmos mais próximos de Jesus e então atrairmos os outros.
E na verdade esta é uma das esperanças de Sua Santidade, Bento XVI: que se a Missa Latina antiga estiver liberada, e o povo e os padres se tornarem mais familiarizados com ela, isso tenha um maravilhoso efeito na forma como celebramos e entendemos a Missa em inglês.
Agora algumas pessoas podem dizer: Como pode ser? Como é que o povo rezaria numa Missa que não só é toda em latim, mas também onde o padre passa quase a Missa toda virado sem ser para o povo? Ele está de costas para eles! Primeiro ele está resmungando em latim e depois, para qualquer propósito prático, parece que ele está ignorando o povo, evitando-o, escondendo-se dele.
Mas não é isso que ele está fazendo. Ele está de frente para Deus. Dado que o padre dirige as orações a Deus Pai, faz sentido que o padre esteja de frente para Deus mais do que para o povo enquanto diz essas orações.
A palavra usada pela Igreja para explicar porque ele está virado daquele jeito é "orientação". Ele está simbolicamente voltado para o Leste, o Oriente, o lado da Aurora, a cidade de Jerusalém, o momento da Páscoa, a última vinda de Jesus na Glória.
As igrejas ortodoxas são bem rígidas quanto a isto, e jamais construiriam uma igreja sem que ela estivesse literalmente voltada para o leste. Nós latinos, nós romanos, sempre fomos mais brandos quanto a isto. Era-nos suficiente considerar que o padre estava voltado para o leste simbólico.
Eu sei que estamos muito acostumados com o padre olhando para nós quando ele celebra a Missa, mas o que pode acidentalmente acontecer é de começarmos a sentir como se o padre estivesse falando conosco.
Eu algumas vezes, quando estou de frente para o povo,  pergunto-me se a impressão que estou dando não é a de estar me dirigindo a Deus, mas a de estar discutindo coisas maravilhosas sobre Deus.
Eu me lembro de alguns anos atrás, em Cicero, em Our Lady of Charity - estava fazendo muito frio numa manhã, algo entre 10 e 15 graus negativos -, e na Missa de 6h30, neste dia, só estávamos o coroinha e eu. E ele perguntou-me: "Padre, se ninguém aparecer, para quem você vai celebrar a Missa?"
Eu respondi, é claro, "para Deus".
Mas isso me fez pensar que este pequeno garoto, e talvez mais alguns outros, acha que a Missa seja algo como o padre dando um tipo de lição ao povo sobre Deus e coisas sagradas, ao invés de a Missa ser um ato objetivo de culto sacrifical.
Nós temos que perceber que o padre não está dando as costas para nós, como se ele estivesse evitando que tomássemos parte em algo que é sua propriedade privada. Ironicamente, isto pode acontecer quando ele está de frente para o povo, porque há a tentação de crer que, a fim de as pessoas tirarem o máximo proveito possível da Missa, elas precisam de suas infinitas explicações e exortações, que tudo depende dele, e que é melhor ele fazer tudo rápido e animado, ou não vai dar certo.
Se estar voltado para a mesma direção nos diz algo, é que este ritual, esta cerimônia, não depende do padre ou de sua personalidade ou dos gracejos irreverentes de seu estilo de liderança, nos diz que ele não é um Bob Barker do Catolicismo Romano (NT: ou seja, uma espécie de "Sílvio Santos"), mas antes o humilde e indigno representante do povo de Deus, que está com ele e diante dele como aquele que nos guia para o místico Calvário de Cristo, todos nós marchando juntos rumo à Nova Jerusalém.
Esse não é um entendimento diferente da Missa. Isso é o que acreditamos acerca de toda missa, e é o que sempre temos acreditado, tenha sido a Missa em inglês ou em latim, com o padre de frente para o povo ou de frente para Deus. O que sempre tem lugar é o invisível e incruento Sacrifício de Cristo.
O que a nova permissão do Papa sobre a Missa quer dizer é que nós entenderemos mais claramente aquilo em que cremos. Nós veremos algo na celebração de cada Missa que nos ensinará algo sobre toda missa.

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