A denudação dos altares na Quinta-feira Santa

Pax et bonum!

Estamos na Semana mais profunda da vida litúrgica dos cristãos.
Gostaríamos de falar sobre a cerimônia de denudação do altar (ou dos altares), prática muito antiga no Rito Romano mas que, infelizmente, por falta de ênfase, detalhes, continuidade nos próprios livros litúrgicos reformados, neste particular, tornou-se esquecida, desconhecida.
Atualmente, as indicações para a Forma Ordinária são as seguintes:

Missale Romanum (2002)
Tempore opportuno denudatur altare et auferuntur, si fieri potest, cruces ab ecclesia. Expedit ut cruces, quae forte in ecclesia remanent, velentur. (Feria quinta in Cena Domini, 41) [No momento oportuno, seja denudado o altar e retirem-se as cruzes da igreja, se possível. Convém que as cruzes, que permanecem na igreja, sejam veladas.]

Paschalis Sollemnitatis (1988)
Concluída a missa é desnudado o altar da celebração. Convém cobrir as cruzes da igreja com um véu de cor vermelha ou roxa, a não ser que já tenham sido veladas no sábado antes do V domingo da Quaresma. Não se podem acender velas ou lâmpadas diante das imagens dos santos. (n. 57)

Os livros mais antigos (sobretudo o usus antiquior, Forma Extraordinária do Rito Romano) dão-nos os detalhes de como esta cerimônia acontecia e acontece.

Missale Romanum Editio Princeps (1474)
Post refectionem sacerdos cum acolito denudat altaria legendo (...). (Feria quinta in Cena Domini) [Após a refeição, o sacerdote denuda os altares com o acólito, recitando (...).]

Memoriale Rituum (1950)
Celebrans, paratus ut supra, associatus a Clericis, manibus iunctis, accedit ad Altare maius.
In plano, ante illud stans, inchoat alta voce Ant. Divisérunt sibi, quam prosequitur cum Psalmo Deus, Deus meus, réspice in me etc., recitans illum cum Clericis (si Cantores aut alii Clerici in Choro maneant, hi tantum prosequentur Psalmum, et repetent Antiphonam).
Interim Celebrans ascendit Altare, quod denudat, amovendo tobaelam superiorem et alias.
Clerici recipiunt tobaleas, et amovent ab Altari vasa florum, pallium, tapete etc., adeo ut in Altari non remaneant nisi Crux et candelabra cum candelis extinctis.
Si haec statim commode fieri nequeunt, fient postea, denudata saltem in caeremonia maiori parte mensae Altaris.
Celebrans, denudato Altari maiori, procedat ad denudationem reliquorum Altarium, si plura adsint. (Tit. IV, Caput II, § 4) [O Celebrante, paramentado como acima (de estola roxa cruzada sobre a alva), junto com os Clérigos, dirige-se ao Altar-mor com as mãos juntas. No plano, de pé diante dele, entoa em alta voz a Antífona Dividiram entre si, seguida do Salmo Deus, meu Deus, olhai para mim, etc., recitando-o com os Clérigos (se houver Cantores ou outros Clérigos no Coro, somente eles prosseguem com o Salmo, e repetem a Antífona). O Celebrante sobe ao Altar, o qual denuda, retirando a toalha superior e as outras. Os Clérigos recebem as toalhas e removem do Altar os vasos de flores, o frontal, o tapete, etc., de modo que no Altar só restem a Cruz e os castiçais com velas apagadas. Se isso não puder ser feito comodamente, faça-se depois, mas seja denudada na cerimônia ao menos a maior parte da mesa do Altar. O Celebrante, denudado o Altar-mor, proceda com a denudação dos Altares restantes, se houver.]

Missale Romanum (1962)
Deinde celebrans et ministri, seu ministrantes, exeunt ante altare maius; facta eidem reverentia, stantes, incipiunt denudationem altarium, hoc modo:
Celebrans dicit clara voce sequentem antiphonam: Ps. 21,19 Dívidunt sibi induménta mea, et de veste mea mittunt sortem, addens initium eiusdem psalmi: Deus meus, Deus meus, quare me derelquísti?
Clerici, si adsunt, prosequuntur recitationem huius psalmi, usque dum altarium denudatio peracta sit; alioquin celebrans dicat antiphonam et primum tantum versum psalmi ante denudationem altaris maioris.
Celebrans vero cum ministris sacris, vel ministrantibus, denudat omnia altaria ecclesiae, excepto illo in quo Sacramentum solemniter adoratur.
Altaribus denudatis, redeunt ad altare maius, et, repetita a celebrante antiphona Dívidunt, revertuntur in sacristiam. (Feria quinta in Cena Domini, De solemni translatione ac repositione Sacramenti et de Altarium denudatione, 7) [Em seguida, o celebrante e os ministros, ou os coroinhas, vão para diante do altar-mor; feita a ele a devida reverência, de pé, iniciam a denudação dos altares da seguinte forma: O celebrante diz claramente a seguinte antífona: Sl 21,19 Dividem entre si as minhas vestes, e lançam a sorte sobre a minha túnica, acrescentando o início do mesmo Salmo: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? Se há clérigos, eles prosseguem a recitação deste salmo até que se conclua a denudação dos altares; de outro modo o celebrante diga a antífona e somente o primeiro versículo do salmo, antes da denudação do altar-mor. O celebrante com os ministros sagrados, ou com os coroinhas, denudam todos os altares da igreja, exceto aquele em que se adora solenemente o Sacramento. Desnudados os altares, voltam para diante do altar-mor e, repetida a antífona Dividem pelo celebrante, retornam para a sacristia.]

A Catholic Encyclopedia diz o seguinte, em seu artigo:
Na Quinta-feira Santa o celebrante, tendo transladado a âmbula do altar-mor, vai para a sacristia. Lá ele depõe os paramentos brancos e veste uma estola roxa, e, acompanhado pelo diácono, também vestido com estola roxa, e pelos subdiáconos, volta para o altar-mor. Enquanto a antífona "Diviserunt sibi" e o salmo "Deus, Deus meus" estão sendo recitados, o celebrante e seus assistentes sobem para junto do altar e retiram do altar as toalhas, os vasos de flores, o frontal (antepêndio), e outros ornamentos, de modo que nada reste a não ser a cruz e os castiçais com velas apagadas. Da mesma forma todos os outros altares da igreja são denudados. Se há vários altares na igreja, outro sacerdote, com sobrepeliz e estola roxa, pode denudá-los enquanto o celebrante estiver denudando o altar-mor. O altar cristão representa Cristo, e a denudação do altar lembra-nos como ele foi despojado de suas vestes quando caiu nas mãos dos judeus e foi exposto despido aos seus insultos. É por esta razão que o salmo "Deus, Deus meus" é recitado, no qual o Messias fala dos soldados romanos dividindo suas vestes entre eles. Esta cerimônia significa a suspensão do Santo Sacrifício. Originariamente foi um costume em algumas igrejas lavar os altares, neste dia, com um ramo de hissopo mergulhado em vinho e água, para deixá-los, de alguma forma, dignos do Cordeiro sem mancha que sobre eles é imolado, e para trazer à mente dos fiéis a tão grande pureza com que devem participar do Santo Sacrifício e receber a Sagrada Comunhão. Santo Isidoro de Sevilha (De Eccles. Off, I, xxviii) e Santo Elígio de Noyon (Homil. VIII, De Coena Domini) dizem que esta cerimônia tinha a intenção de ser uma homenagem rendida a nosso Senhor, em retribuição pela humildade com que se dignou lavar os pés dos seus discípulos.

Fonte: Schulte, Augustin Joseph. "Stripping of an Altar." The Catholic Encyclopedia. Vol. 1. New York: Robert Appleton Company, 1907. Disponível em: http://www.newadvent.org/cathen/01349a.htm.


Para complementar, recordamos que, em abril de 2011, os amigos do Salvem a Liturgia! já haviam postado o trecho da obra "Curso de Liturgia", do Servo de Deus Pe. Reus, SJ, sobre a denudação dos altares. Confira aqui.

A ARS faz votos de um santo Tríduo Pascal a todos os nossos leitores e amigos.

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