Pentecostes na Jerusalém do séc. IV
Pax et bonum!
Retornando aos belos testemunhos da "Peregrinação de Etéria", leiamos hoje como os cristãos celebravam Pentecostes na Cidade Santa. Mais uma vez o testemunhos destes católicos incansáveis nos interpela.
Mais uma vez vemos, como já desde as outras celebrações do Tríduo Pascal, o forte sentido de vigília, que mantinha os cristãos em oração desde tarde da noite até o dia seguinte inteiro, suportando, como parecia ser uma amada tradição, subir o Monte das Oliveiras e de lá descer em procissão até a Cidade.
O relato está na II parte da obra, no site Veritatis Splendor. Infelizmente, e não sei por qual motivo, a página só está acessível pelo cache do Google.
XLIII
1. [Pentecostes] E no quinquagésimo dia após a Páscoa, que é um domingo, dia em que maior é a fadiga para o povo, iniciam-se as comemorações, como sempre, a partir do primeiro canto do galo [talvez por volta das 3h da madrugada]; vela-se na Anástasis [=Santo Sepulcro], para que o bispo leia o texto que sempre lê aos domingos e é o que se refere à Ressurreição do Senhor; a seguir, tudo se passa, na Anástasis, como de costume, o ano inteiro.
2. Ao nascer do dia, dirige-se o povo todo à igreja maior, isto é, ao Martyrium [=por trás do Calvário], e também aí, tudo quanto é costume fazer-se, faz-se; pregam os sacerdotes e a seguir o bispo; tudo se faz conforme a lei, isto é, a Oblação segue o rito observado aos domingos. Mas nesse dia, apressa-se a dispensa no Martyrium para que se dê antes da hora terceira (=9h). E após a Missa no Martyrium, todos, sem exceção, entoando hinos, conduzem o bispo a Sion [=o Cenáculo], de modo, porém, a estar em Sion à terceira hora, exatamente [hora em que o Espírito Santo desceu no cenáculo, segundo as Escrituras].
3. Aí lêem o trecho dos Atos dos Apóstolos que narra como desceu o Espírito sobre eles para que, em todas as línguas, todos entendessem o que diziam [At. 2,1-12]; a seguir, de acordo com o rito, celebra-se a missa. E os presbíteros lêem, aí, esse passo dos Atos dos Apóstolos porque, segundo se lê, esse é o lugar em Sion, há agora aí outra igreja, onde, outrora, após a Paixão do Senhor, estava reunida a multidão com os apóstolos quando o fato se deu, tal como acima o descrevemos. Segue-se a Missa de acordo com o rito, faz-se a Oblação, e, no instante em que se dispensa o povo, toma a palavra o arquidiácono e diz: "Hoje, imediatamente após a sexta hora (=12h), todos devemos estar presentes no Eleona [Monte das Oliveiras], na igreja do Imbomon [lugar da Ascensão]".
4. Recolhe-se o povo todo, portanto, cada qual à sua casa, para descansar; e, imediatamente após o almoço, vão ao Monte das Oliveiras, isto é, ao Eleona, todos na medida de suas forças, de maneira tal, porém, que nem um só cristão permanece na cidade e não há um só que para lá não se dirija.
5. E, chegando eles ao Monte das Oliveiras, isto é, ao Eleona, vão primeiro ao Imbomon, que é a elevação de onde subiu o Senhor aos céus, e aí sentam-se o bispo, os sacerdotes e o povo; e fazem leituras e dizem, intercalando-os, hinos e recitam antífonas atinentes a esse dia e lugar; também as orações que intercalam contêm, sempre, expressões que convêm ao dia e lugar; lêem ainda o passo do evangelho referente à Ascenção do Senhor [Mc. 16,19; Lc. 24,50-51] e, nos Atos dos Apóstolos, o trecho que fala da Ascenção do Senhor aos céus, após a Ressurreição [At. 1,4-11].
6. E são, depois disto, abençoados os catecúmenos e os fiéis; à nona hora (=15h) desce e, cantando hinos, vão à igreja do Eleona, isto é, à gruta onde o Senhor se detinha e instruía os seus apóstolos. Quando chegam, já passa da hora décima (=16h); comemoram aí o Lucernare, fazem uma prece, os catecúmenos são abençoados e, depois, os fiéis. E logo descem daí, com hinos, todos sem exceção, em companhia do bispo, recitando hinos e antífonas relativos a esse dia; assim vêm, passo a passo, até o Martyrium.
7. É noite quando chegam às portas da cidade e a procissão segue à luz de, talvez, duzentos círios de igreja, por causa do povo; e visto que da porta da cidade há um bom pedaço até a igreja maior, isto é, o Martyrium, chegam bem tarde, à segunda hora da noite (=20h), talvez, porque é devagar, bem devagar que vão o tempo todo, por causa do povo, a fim de que, mesmo indo a pé, não se canse. E, ao se abrirem as portas grandes que dão para o mercado, entra o povo todo no Martyrium, com o bispo, entoando hinos. Uma vez na igreja, dizem hinos, fazem uma prece, abençoam-se os catecúmenos e depois os fiéis; daí, de novo, com hinos, dirigem-se à Anástasis.
8. Igualmente, chegando à Anástasis, recitam hinos e antífonas, fazem uma oração, abençoam-se os catecúmenos e depois os fiéis; o mesmo se faz também junto à Crux. E, de novo, daí, o povo cristão, em peso, entoando hinos, acompanha o bispo a Sion.
9. Chegando, fazem leituras apropriadas; dizem Salmos e antífonas, rezam uma oração, abençoam-se os catecúmenos e depois os fiéis, e dispensa-se o povo. Após a dispensa, aproximam-se todos do bispo, a fim de beijar-lhe a mão, e, a seguir, voltam todos a casa à meia-noite, talvez. Suportam, pois, a maior fadiga nesse dia, visto que, desde o primeiro cantar do galo, velam na Anástasis, e, a seguir, durante o dia inteiro, não descansam nunca; e, de tal forma se estendem todas as celebrações que, só à meia-noite, após o término do ofício em Sion, é que voltam para casa.
Por Luís Augusto - membro da ARS
Comentários
Postar um comentário
Olá.
Os comentários sempre passam por moderação.
Portanto, seja honesto, sincero e educado. Discordar e debater é algo sadio e normal quando a caridade guia a busca pela verdade.
Sejam todos bem-vindos!