Meu testemunho - 3
(Testemunho escrito em 28/12/2013)
Verbum caro factum est et habitavit in nobis!
A exemplo do que fizeram dois outros irmãos da Associação Redemptionis Sacramentum aqui e aqui, também eu venho deixar minhas impressões sobre a Santa Missa segundo a Forma Extraordinária do Rito Romano, também conhecida como “Missa Antiga”, “Missa Tridentina”, “Missa de São Pio V”, dentre outras denominações.
Chamo-me Ângelo Rodrigues Domingues, casado, 31 anos, esperando nosso primeiro filho enquanto celebramos a vinda do Filho de Deus ao mundo.
A primeira vez que ouvi diante de mim o “Introibo ad altare Dei” (“Subirei ao altar de Deus”) também foi em Fortaleza, na Igreja do Tauape. É claro que foi emocionante e surpreendente, mas embora eu já tivesse visto alguns vídeos e lido vários textos, embora soubesse rezar alguma coisa em latim e já conhecesse um pouco o Missal de 1962, estar lá em pessoa foi outra coisa completamente diferente! Só para ilustrar, eu estava com o Missal na mão, mas quando eu pensava que o padre estava em um parágrafo, ele já estava na outra página e eu completamente perdido!
Voltando a Teresina, e após mais estudo, fui ruminando lentamente sobre o que eu havia presenciado e, inevitavelmente fui fazendo comparações, tentando encontrar continuidade em meio à ruptura estampada por toda parte em cada paróquia. E tudo isso foi me fazendo desejar ter aquela Missa novamente.
Neste ano de 2013, mais precisamente no mês de junho, sabendo de uma viagem que eu teria que fazer a Brasília – DF para um curso de capacitação por conta de meu trabalho, procurei na internet pela existência da Missa Tradicional em Brasília e deparei-me com o blog Missa Tridentina em Brasília. Lá encontrei os locais e horários da Missa. Como o curso era de segunda a sexta-feira, optei pela Missa de 19h30 na capela do Instituto Bíblico de Brasília, celebrada pelo Pe. Sérgio David.
Procurei antecipadamente o local no mapa e imprimi imagens da rota para me certificar de que eu chegaria ao local certo. Tomei um taxi com relativa antecedência para não ter problemas com o trânsito e cheguei ao Instituto Bíblico cerca de 30 minutos antes do início do Santo Sacrifício. Este tempo foi muito bom, pois pude conversar com dois distintos senhores sobre a Santa Missa, a Tradição e outros assuntos sobre os quais normalmente não encontramos ninguém para falar, nem mesmo na Igreja.
Ao contrário da Missa dominical de Fortaleza, esta foi uma Missa semanal do Tempo Comum, sem solenidade, sem cantos e sem homilia. Hoje vemos muitas pessoas que vão à Igreja porque gostam da animação dos cantos, acompanhados por instrumentos musicais variados, embalados por ritmos diversos, ou porque o padre fala muito bem e toca o coração, ou porque há orações poderosas que curam, dessas que quando terminam as pessoas dizem: “Meu Deus, que Missa linda!”... Mas provavelmente se você falar que o centro e ápice da Santa Missa é a renovação do Sacrifício da Cruz, elas dirão que não sabiam ou que é invenção sua!
Pois é, quando me vi desprovido de todos estes elementos, percebi que
aquele era o tipo de Missa que só vai quem quer participar “da” Missa, ou seja,
quem quer estar diante do Calvário, do Sacrifício Redentor de Cristo Jesus. Na
falta do que é acessório (e que às vezes em nada assessora, só atrapalha!),
sobrepôs-se o Essencial! Desta vez não me preocupei tanto em saber em que parte
do Missal o padre estava, mas em unir-me espiritualmente aos Sagrados
Mistérios, embora meu latim estivesse um pouco melhor e eu já não me perdesse
tanto como da primeira vez.
Três meses depois, em setembro, por ocasião de outro curso, voltei ao
Instituto Bíblico no mesmo dia e horário para mais uma Missa na Forma
Extraordinária, e desta vez levei um colega de trabalho. A mesma Missa “sem
graça” da outra vez, graças a Deus! Que silêncio, que santidade! Meu colega
ficou tão admirado que no outro dia saiu falando da Missa para os outros, e
falando bem! E ainda dizem que na Missa Antiga ninguém entende nada... E hoje
entendem?
O problema destas minhas Missas “a trabalho” é que, ao retornar a Teresina, bate aquela “depressão pós-Missa”. Pode perguntar para quem já fez esta experiência! Você chega à sua paróquia e ouve “aqueles” cantos, o padre é o primeiro a puxar as palmas; estando voltado para o povo, o padre fala a Deus fazendo caras e bocas para a assembleia de fieis (às vezes tenho até minhas dúvidas se ele sabe mesmo para quem é que ele está se direcionando, inclusive na hora da Consagração); o povo responde a Oração Eucarística só pra “cumprir tabela” e romper o indesejado silêncio; as moças e senhoras vestem-se de qualquer maneira; os fieis recebem a Sagrada Eucaristia sem um pingo de reverência, e por aí vai.
Então depois de uma ou duas semanas você volta ao normal e vai aprendendo a fechar os olhos e enxergar além das aparências, vai aprendendo que mesmo com tudo, ainda assim é a Santa Missa e o Corpo e Sangue de Cristo se fazem presentes no altar. E assim a gente vai gemendo e chorando neste vale de lágrimas, mas com o olhar fixo no céu, aguardando o próximo curso, na espera de dias melhores para nossa arquidiocese.
Por Ângelo Rodrigues Domingues - membro da ARS
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