Assim falou o Beato... II Parte
ALLELUIA
Continuando as citações do Bem-aventurado João Paulo II sobre a Sagrada Liturgia:
A Sagrada Liturgia, que a Constituição Sacrosanctum Concilium considera o cume da vida da Igreja, não pode ser reduzida a uma realidade meramente estética, nem pode ser considerada como um instrumento cujas metas são principalmente pedagógicas ou ecumênicas. A celebração dos Sagrados Mistérios é, antes de tudo, um ato de louvor à Majestade Soberana de Deus, Três em Um, uma expressão desejada pelo próprio Deus. Por este [ato], o homem, tanto num caminho pessoal como num comunal, aparece diante de Deus para dar-lhe graças, ciente de que o seu ser não pode encontrar seu pleno significado se não louva a Deus e não faz sua vontade em sua constante procura pelo Reino, que já está presente, mas que chegará definitivamente no dia da Parusia do Senhor Jesus. A liturgia e a vida são duas realidades inseparáveis. A liturgia que não se reflete na vida se tornaria vazia e certamente não agradaria a Deus.
A celebração da Liturgia é um ato da virtude da religião que, conforme a sua natureza, deve ser caracterizada por um profundo senso do sagrado. Nesta, o homem e a inteira comunidade devem estar cientes de estar, de um modo especial, na presença daquele que é três vezes santo e transcendente. Consequentemente, a atitude de implorar só pode existir permeada pela reverência e por um senso de admiração que vem do conhecimento de que se está na presença da majestade de Deus. Deu não quis expressar isto quando ordenou a Moisés que tirasse as sandálias diante da sarça ardente? Não surgiram desta consciência a atitude de Moisés e Elias de não ousarem olhar para Deus facie ad faciem [face a face]?
O povo de Deus precisa ver sacerdotes e diáconos portando-se de um modo que é pleno de reverência e dignidade, a fim de ajudá-los a penetrar as coisas invisíveis sem palavras ou explicações desnecessárias. No Missal Romano de São Pio V, como em várias liturgias orientais, há orações muito belas pelas quais o sacerdote expressa o mais profundo senso de humildade e reverência antes dos Sagrados Mistérios: elas revelam a substância mesma da Liturgia.
(À Assembleia Plenária da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 2-3. 21/09/2001)
Há lugares onde se verifica um abandono quase completo do culto de adoração eucarística. Num contexto eclesial ou outro, existem abusos que contribuem para obscurecer a recta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento. Às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa. (...) Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções. (...)
A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contato actual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado. (...)
A Missa torna presente o sacrifício da cruz; não é mais um, nem o multiplica. (...) A natureza sacrificial do mistério eucarístico não pode ser entendida como algo isolado, independente da cruz ou com uma referência apenas indireta ao sacrifício do Calvário.
Temos a lamentar, infelizmente, que sobretudo a partir dos anos da reforma litúrgica pós-conciliar, por um ambíguo sentido de criatividade e adaptação, não faltaram abusos, que foram motivo de sofrimento para muitos. Uma certa reação contra o « formalismo » levou alguns, especialmente em determinadas regiões, a considerarem não obrigatórias as « formas » escolhidas pela grande tradição litúrgica da Igreja e do seu magistério e a introduzirem inovações não autorizadas e muitas vezes completamente impróprias.
Por isso, sinto o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios. (...) Atualmente também deveria ser redescoberta e valorizada a obediência às normas litúrgicas como reflexo e testemunho da Igreja, una e universal, que se torna presente em cada celebração da Eucaristia. O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja.
(Encíclica ECCLESIA DE EUCHARISTIA, 10.12.52. 17/04/2003)
O que é a Liturgia, senão a voz uníssona do Espírito Santo e da Esposa, a santa Igreja, que bradam ao Senhor Jesus: "Vem"? O que é a Liturgia, senão aquela fonte pura e perene de "água viva", da qual cada pessoa sedenta pode haurir gratuitamente o dom de Deus (cf. Jo 4, 10)? (...)
É mais necessário do que nunca incrementar a vida litúrgica no âmbito das nossas comunidades, através de uma formação adequada dos ministros e de todos os fiéis, em vista da participação plena, consciente e activa nas celebrações litúrgicas, desejada pelo Concílio. (...)
Um aspecto que é preciso cultivar com maior compromisso, no interior das nossas comunidades, é a experiência do silêncio. Temos necessidade dele "para acolher nos nossos corações a plena ressonância da voz do Espírito Santo, e para unir estreitamente a oração pessoal à Palavra de Deus e à voz pública da Igreja". Numa sociedade que vive de maneira cada vez mais frenética, muitas vezes atordoada pelos ruídos e perdida no efémero, é vital redescobrir o valor do silêncio. Não é por acaso que mesmo para além do culto cristão, se difundem práticas de meditação que dão importância ao recolhimento. Por que não começar, com audácia pedagógica, uma educação ao silêncio no contexto de coordenadas próprias da experiência cristã? Que esteja diante dos nossos olhos o exemplo de Jesus, que "tendo saído de casa, se retirou-se num lugar deserto para ali rezar" (Mc 1, 35). Entre os seus diversos momentos e sinais, a Liturgia não pode minimizar o silêncio.
Através da introdução nas várias celebrações, a pastoral litúrgica deve incutir o gosto pela oração. Sem dúvida, fá-lo-á se tiver em consideração as capacidades dos fiéis singularmente, nas suas diferentes condições de idade e de cultura; mas fá-lo-á procurando não se contentar com o "mínimo". A pedagogia da Igreja deve saber "ousar". É importante introduzir os fiéis na celebração da Liturgia das Horas que, "enquanto oração pública da Igreja, é fonte de piedade e alimentação da oração pessoal".
(Carta Apostólica SPIRITUS ET SPONSA, 1.7.13-14)
Grande mistério, a Eucaristia! Mistério que deve ser, antes de mais nada, bem celebrado. É preciso que a Santa Missa seja colocada no centro da vida cristã e que, em cada comunidade, tudo se faça para celebrá-la decorosamente, segundo as normas estabelecidas, com a participação do povo, valendo-se dos diversos ministros no desempenho das atribuições que lhes estão previstas, e com uma séria atenção também ao aspecto de sacralidade que deve caracterizar o canto e a música litúrgica.
(Carta Apostólica MANE NOBISCUM DOMINE, 17. 07/10/2004)
Cristo está presente sobretudo na Celebração eucarística, reapresentação viva do Mistério pascal, e a sua acção é participada e compartilhada de maneira apropriada à nossa humanidade, necessitada de palavras, de sinais e de ritos. A eficácia de tal acção é fruto da obra do Espírito Santo, mas exige também a resposta por parte do homem. A ars celebrandi exprime precisamente a capacidade dos ministros ordenados e de toda a assembleia, reunida para a celebração, de actuar e de viver o sentido de cada um dos actos litúrgicos. Trata-se de uma arte que se faz uma só coisa com o compromisso da contemplação e da coerência cristã. Através dos ritos e das orações, é necessário deixar-se alcançar e impregnar intimamente pelo Mistério.
(Mensagem ao Card. Francis Arinze por ocasião da Assembleia Plenária da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 3. 03/03/2005)
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